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Israel pressiona Biden: “Não cometa os mesmos erros de Obama com o Irão”

Joe Biden já disse que tem em cima da mesa o regresso dos Estados Unidos ao perímetro do acordo nuclear assinado com o Irão em 2015. Para Telavive, isso é intolerável. Biden ainda não conseguiu entrar na Casa Branca, mas já tem um foco de tensão para gerir com Israel. A Obama sucedeu o mesmo.
19 Novembro 2020, 17h40

A derrota de Donald Trump nas presidenciais de 3 do novembro passado e o facto de o vencedor, o democrata Joe Biden, ter dito que tem em cima da mesa a possibilidade de voltar ao perímetro do acordo nuclear com o Irão – que o ‘seu’ presidente, Barack Obama, assinou em 2015 juntamente com a China, Rússia, França, Alemanha e Reino Unido – está a deixar Israel numa posição de grande desconforto.

E os recados já começaram: O editorial de um dos principais jornais israelitas, o ‘The Times of Israel’, assinado por Davir Horovitz, não podia ser mais explícito: “Por favor, não cometa os mesmos erros que Barack Obama cometeu com o Irão em 2015”, escreve.

A saida dos Estados Unidos do perímetro do acordo foi saudada por Israel de forma especial – e perante o coro de críticas de todos os outros Estados que assinaram o acordo sem exceção, a que se somou a ONU – que considerou ser o primeiro passo para que a república xiita regressasse à lista dos ‘indesejáveis’ de todos os países do ocidente. Mas não foi nada disso que sucedeu: tanto os países europeus como a a Rússia e a China mantiveram em aberto as relações com Teerão e aconselharam-lhe calma – o que queria dizer uma coisa do género, ‘esperem até Trump ser posto a andar’.

O editorial do jornal refere que os acordos que Israel firmou com três Estados muçulmanos (Emirados Árabes Unidos, Sudão e Bahrein, sendo que o acordo com este último foi assinado esta quinta-feira) são a evidência de que o Islão sunita está, juntamente com Israel, a fazer uma espécie de cordão sanitário à volta do Irão. Sendo isso absolutamente verdadeiro, o problema é que o ocidente não tem sobre o sunismo – responsável por parte substancial se não mesmo por todos os atentados que assolam a Europa – uma visão edílica que parece estar a emcantar os Estado judaico.

Entretanto, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, está numa verdadeira corrida contra o tempo: pressionado pelo seu partido, o Likud, e pelos partidos ainda mais à direita que o seu, prepara-se para, antes de Biden ser empossado como o 46º presidente dos Estados Unidos, legalizar dezenas de postos avançados da Cisjordânia, situados em locais que os acordos internacionais destinam à Palestina. É uma espécie de política do facto consumado, que Israel tenta repetidamente e que tem dado os seus frutos: o território da Palestina encolhe todos os anos.

Em Teerão, as movimentações seguem no sentido inverso: o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif – ‘velho’ conhecido do antigo secretário de Estado John Kerry ao tempo das negociações do acordo de 2015 – disse esta terça-feira em Teerão que concorda em debater como os Estados Unidos o possível reingresso do país no acordo nuclear – coisa de que Telavive não quer sequer ouvir falar.

Preocupado com toda a questão, o ministro de Estado e das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, mostrou-se esta semana preocupado com o rumo dos acontecimentos, mas disse, comentando a disposição iraniana de modo enfático, que “acreditamos que os iranianos responderam apenas à pressão”.

De qualquer modo, e pela tensão que se criou em poucos dias, o dossier Irão/Israel tem tudo para ser a primeira verdadeira dor de cabeça de Joe Biden mal o deixem aceder à Sala Oval.

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