O pior cenário acabou mesmo por acontecer: o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, apresentou esta terça-feira a sua demissão ao Presidente da República, Sergio Mattarella, que decidiu aceitá-la e iniciar consultas com os partidos para resolver a crise política, informou o gabinete do chefe de Estado depois se de ter consumado o abandono da coligação governamental por parte do partido Itália Viva, do ex-primeiro-ministro e ex-líder do Partido Democrático Matteo Renzi.
Sergio Mattarella – que assim regressa a um lugar de que não gosta: as crises políticas de sucessivos governos aos quais tem dado cobertura – iniciará agora mais uma ronda de consultas para analisar as diferentes soluções para a crise governativa. As soluções são sempre as mesmas: mais um governo de coligação, um executivo tecnocrata de iniciativa presidenciais ou eleições antecipadas.
Num quadro em que as estatísticas dizem que o país está a atravessar a pior recessão desde a II Guerra Mundial – em larga escala devido à pandemia, que entrou na Europa precisamente pela Itália – mais uma crise governamental poderá dificultar a aprovação de um novo plano de ajudas públicas de vários milhares de milhões de euros para apoiar os setores mais afetados pelos confinamentos. Aliás, este plano – a famosa bazuca europeia – foi um dos temas que acabou por afastar os parceiros de coligação, dado que Renzi entendia que o executivo devia gerir os fundos de recuperação de forma mais próxima que aquilo que era proposto pelo primeiro-ministro. Com o entendimento entre as duas partes a já não ser isenta de problemas, a questão dos fundos acabou por ser o que determinou a erosão final da coligação.
Parece claro que a direita – como a Liga, os Irmãos de Itália e Silvio Berlusconi – está apostada em avançar para novas eleições, uma vez que a sua confiança em Giuseppe Conte é nula: o primeiro-ministro demissionário foi uma escolha do presidente da Liga, Matteo Salvini, mas o entendimento entre os dois deteriorou-se muito rapidamente, principalmente quando o académico se mostrou bem mais europeísta que Salvini. Os dois acabariam por afastar-se em definitivo depois de Conte ter repudiado a forma como Salvini geriu (à bruta) a questão dos refugiados que chegavam à costa italiana.
A coligação que trouxe Renzi para a esfera do executivo motivou as maiores desconfianças entre os analistas desde o primeiro momento. Mas para já não é claro o que dirão tanto o Itália Viva como o Partido Democrático em relação à crise governativa.
Mattarella tem mostrado sempre que as eleições antecipadas são a sua última escolha, mas uma certeza definitiva sobre a matéria só terá lugar depois de o presidente ouvir todos os partidos.
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