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JD Vance na Índia com acordo de 500 mil milhões em perspetiva

Administração Trump tenta fazer o que a administração Biden não conseguiu: manter a Índia no perímetro de influência dos Estados Unidos. Acordo comercial tentará convencer Modi – que mantém o país no Quad mas também nos BRICS – a deixar cair a China.
22 Abril 2025, 07h00

O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, está de visita à Índia para se encontrar com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, levando consigo a perspetiva de um novo acordo bilateral que vale 500 mil milhões de dólares até 2030 – mais do dobro das atuais trocas comerciais entre os dois países. O acordo serve também para os Estados Unidos tentarem travar qualquer entendimento privilegiado entre a Índia e a China e para tentar fazer regressar o Estado mais populoso do mundo à esfera de influência norte-americana, algo que a anterior administração de Joe Biden tentou, mas nunca conseguiu. Esta parte do entendimento permanecerá, no entanto, difícil: Narendra Modi tem investido “raivosamente” numa independência que mantenha a Índia equidistante de todas as zonas de influência – EUA, China e mesmo a Rússia – sem se comprometer com nenhuma delas. E as tarifas propostas pela administração Trump não são, com certeza, o melhor “cartão de visita” dos norte-americanos.

Vance, que está numa visita de quatro dias à Índia, em grande parte pessoal – como fez anteriormente no Vaticano e em Munique –, está acompanhado da sua mulher, Usha Vance, uma praticante hindu cujos pais são da Índia, e dos seus três filhos. O vice-presidente encontrou-se com Modi na sua residência em Nova Deli. Os dois líderes “analisaram e avaliaram positivamente o progresso em diversas áreas da cooperação bilateral”, afirmou o gabinete de Modi em comunicado citado pela agência AP. As duas partes “celebraram o progresso significativo” nas negociações de um esperado acordo comercial entre os dois países.

Os EUA são o maior parceiro comercial da Índia (que foi “brindada” com tarifas de 26%, entretanto suspensas em parte) e os dois países estão em negociações para firmar um acordo comercial bilateral ainda este ano – com a meta ambiciosa de atingir os 500 mil milhões. Se alcançado, o acordo poderá fortalecer significativamente os laços económicos entre os dois países e, potencialmente, reforçar também os laços diplomáticos. Para o gabinete de Vance, também citado pela agência, o acordo deverá promover a criação de emprego em ambos os países, tendo ainda o objetivo de aprimorar a integração da cadeia de fornecimento de forma equilibrada e mutuamente benéfica. Recorde-se que várias empresas de topo norte-americanas estão neste momento a tentar erradicar a sua dependência do mercado chinês, sendo o indiano uma alternativa possível – sendo a Apple (construtora dos iPhones) e a Tesla (de Elon Musk) duas delas.

O gabinete de Modi disse que os dois líderes “notaram esforços contínuos para aumentar a cooperação em energia, defesa, tecnologias estratégicas e outras áreas” e “trocaram opiniões sobre várias questões regionais e globais de interesse mútuo, pedindo diálogo e diplomacia como o caminho a seguir”. Ainda segundo a AP, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Randhir Jaiswal, afirmou que a visita de Vance “aprofundará ainda mais a parceria estratégica global abrangente entre a Índia e os Estados Unidos”.

A Índia é, ou pode ser, uma aliada estratégica no combate à crescente influência da China na região do Indo-Pacífico e também faz parte do Quad (Diálogo de Segurança Quadrilateral), formado por EUA, Índia, Japão e Austrália, visto como um contrapeso à expansão da China. Vance deverá participar numa cúpula de líderes do Quad na Índia ainda este ano. Modi estabeleceu uma boa relação de trabalho com Trump durante o seu primeiro mandato, mas a visita do líder indiano aos Estados Unidos em junho de 2023, altura em que foi recebido com honras de Estado em Washington, não resultou da forma como o então presidente Biden havia imaginado. O democrata pretendia captar a Índia para o lado dos que se opunham declaradamente à Rússia em favor da Ucrânia, mas isso não aconteceu. Para contrabalançar, a Índia também faz parte dos BRICS – um agrupamento de países que está a expandir a sua esfera de influência junto dos chamados países emergentes e do Sul Global.

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