Com um novo ciclo político à porta, a Business Roundtable Portugal (BRP) quer estimular o crescimento e a competitividade da economia nacional e, para tal, lançou uma ferramenta comparativa para situar o país no panorama europeu em 30 indicadores considerados chave. Focando-se num grupo de controlo formado por oito países (Espanha, Itália, Grécia, Eslovénia, Polónia, República Checa, Estónia e Hungria) com um PIB per capita semelhante ao nacional em 2000, a ferramenta pretende dotar os decisores de informação relevante numa altura em que o crescimento deve ser colocado no topo das prioridades do país, afirma Vasco de Mello, presidente da BRP, que falou ao JE à margem da apresentação do ‘Comparar para Crescer’, onde frisou ainda a importância da atração e retenção de talento.
A questão da qualidade da informação em Portugal é sempre levantada quando se fala na necessidade de avançar o país. Como é que a vossa iniciativa contribui nessa dimensão?
Para tomar decisões adequadas é fundamental ter informação. Esta ferramenta tenta dar resposta a essa necessidade utilizando uns parceiros que dão grande credibilidade, baseando-se em dados públicos, verificáveis e que permitem basear as decisões em dados concretos. Portanto, tentamos com isso obstar a que se possa pôr em causa os dados sobre os quais a decisão é tomada.
A Comparar para Crescer foi lançada em parceria com a KPMG e a InformaDB.
Há outras fontes não públicas de dados relevantes para o vosso estudo. Têm expectativa de virem a acrescentar outras bases de dados no futuro?
Este lançamento é uma primeira iniciativa, é um lançamento zero e sobre isto vamos construindo em cima da ferramenta, até para corrigir alguns temas que possam não estar tão completos. Pensamos ter coberto as principais fontes para este tipo de indicadores, [mas] se viermos a concluir que há outras fontes necessárias para completar, não deixaremos de o fazer.
A plataforma Comparar para Crescer congrega dados recolhidos nos organismos públicos – INE e Eurostat – e também na Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e cujo objetivo é que venha a ser sempre melhorada, com mais informação relevante para o país.
Estamos a falar de que indicadores?
A plataforma compila 30 indicadores divididos em quatro áreas – performance global, pessoas, empresas e Estado – os principais eixos de ação da BRP. Permite estabelecer comparações com o resto das economias europeias, com um foco num grupo de controlo formado por oito países: Espanha, Itália, Grécia, Polónia, República Checa, Eslovénia, Estónia e Hungria. Economias como Malta e Chipre ficaram de fora devido à sua dimensão.
A ideia é estabelecer uma comparação em 30 indicadores chave com um grupo de países equiparáveis a Portugal. Com séries estatísticas a começar em 2000, o grupo de comparação foi estabelecido com base em economias que, no início do século, tivessem um PIB per capita semelhante ao nacional.
Sendo Portugal um país maioritariamente de PME, quais serão os seus principais desafios nos próximos cinco anos?
A formação, a requalificação e capacitação das pessoas, conseguir atrair talento e retê-lo é absolutamente fundamental para se poder inovar, crescer de forma acelerada e cobrindo os riscos que sempre surgem nestas situações – e, de resto, é um tema em que o BRP intervém na área da requalificação através do PROMOV; outro aspeto extraordinariamente relevante é o governo das empresas, terem estruturas adequadas para poderem gerir os riscos adicionais que uma aceleração do crescimento, maior inovação ou a internacionalização provocam. Conseguir ter a governança adequada é um desafio e também aí o BRP está a trabalhar através de um programa específico aberto a todas as empresas e onde nos parece que juntar a academia e as empresas é também um importante passo. Temos iniciativas nos três pilares: pessoas, empresas e Estado. Conseguir diminuir os custos de contexto será absolutamente fundamental.
Apesar de todas as dificuldades recentes com a pandemia e a subida dos custos, o tecido empresarial português tem resistido melhor do que esperaria?
As empresas têm tido um comportamento absolutamente extraordinário, adaptando-se às circunstâncias, internacionalizando-se… Tivemos um comportamento das exportações extraordinário, temos hoje um desafio significativo – apesar dos dados mais recentes que apontam para um ligeiro aumento do desemprego – porque temos uma dificuldade enorme em contratar pessoas para determinadas funções, mas o tecido empresarial português tem dado uma resposta muito positiva.
Ainda assim, parece-lhe que falta ambição ao país? E se sim, será um problema maioritariamente da classe política?
Considero que falta claramente ambição ao país. Temos de eleger o crescimento como o aspeto fundamental para os próximos anos e compenetrar-se que só com crescimento conseguimos ser mais prósperos, mais justos e mais sustentáveis.
Daí o vosso apelo a que seja colocado no topo das prioridades governativas.
Precisamos de ter capacidade de aumentar a nossa ambição, que passe a ser um desígnio nacional do país. Não nos podemos contentar com esta situação em que 40% dos nossos licenciados vão para fora. Precisamos de crescer e de forma significativa – temos de crescer, em média, 3,9% ao ano nos próximos 20 anos para nos aproximarmos dos nossos concorrentes. Nós na BRP acreditamos que este é o momento certo e o tempo de construir um futuro melhor para o país.
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