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Comissão alerta: inovação na UE está focada em sectores de baixa rentabilidade

A UE arrisca perder o comboio da inovação para os EUA, China, Coreia do Sul e Japão, dada a dificuldade em atacar sectores de mais rendimento, como os ligados às tecnologias de informação. Para tal, a criação de um verdadeiro mercado único seria chave.
16 Janeiro 2025, 07h00

A Europa está a cair numa ‘armadilha de média tecnologia’, ou seja, a investir sobretudo em sectores tecnológicos de rendimento médio, enquanto os EUA e a China assumem a liderança em inovação e ativos intangíveis de maior lucro. Esta é uma das conclusões de um relatório da UE a alertar que os atrasos na implementação do mercado único tornam o bloco mais vulnerável aos riscos na economia global, sobretudo no atual contexto de tensões comerciais e geopolíticas.

O Relatório de Mercado Único e Competitividade de 2025 da Comissão Europeia, a cujo rascunho o JE teve acesso, fica bastante em linha com as recomendações de Mario Draghi, antigo presidente do BCE, sobre a economia europeia. A apresentação do documento estava inicialmente sinalizada para esta quarta-feira no calendário temporário definido aquando da tomada de posse da nova Comissão, mas foi, entretanto, adiada devido ao estado de saúde da presidente Ursula von der Leyen, doente com uma pneumonia, atrasando também o anúncio da ‘Bússola da Competitividade’, estratégia para a qual este relatório serve de base.

A UE tem “uma base tecnológica mais diversificada do que outras economias grandes, [mas] é desproporcionalmente mais especializada em tecnologias menos complexas do que as suas contrapartes”, alerta a Comissão, o que arrisca colocar o bloco numa ‘armadilha de média tecnologia’.

A suportar esta teoria, o relatório lembra que as empresas europeias lideraram o investimento em investigação e desenvolvimento (R&D) no sector automóvel, enquanto os EUA tomavam a dianteira na saúde, hardware e software de comunicação – dimensões nas quais os números europeus se aproximam mais da realidade japonesa do que da norte-americana.

O documento reconhece a demora na implementação do mercado único europeu, pintando um retrato pouco otimista relativamente à evolução deste objetivo. O diferencial de produtividade para os EUA permanece, os preços da energia no bloco europeu são um entrave ao crescimento e a atratividade do continente enquanto destino de investimento está em declínio.

Outro dos sinais claros deste declínio europeu é o número de unicórnios (empresas avaliadas em mais de mil milhões de euros) sediados no continente: 263 face a 1.539 nos EUA e 387 na China. Por outro lado, as empresas europeias utilizam, em média, 22 robôs por mil trabalhadores, um número significativamente abaixo dos 101 registados na Coreia do Sul (que domina este indicador) ou dos 29 nos EUA.

Perante o impedimento da atual presidente da Comissão Europeia, que se encontra a recuperar de uma pneumonia, a apresentação deste relatório e da ‘Bússola da Competitividade’ foram adiadas para 29 de janeiro, data indicativa, por enquanto, dado o estado de saúde de von der Leyen.

Entretanto, a UE abriu uma consulta pública aos cidadãos europeus sobre este tema, iniciativa que correrá até ao fim do mês. O diálogo foi aberto no início do ano, a 3 de janeiro, e visa dar oportunidade às famílias e empresas europeias de reportarem às mais altas instituições os principais entraves no seio europeu a mais competitividade, sobretudo os ligados com questões regulatórias.

Na mesma linha, a Comissão publicou esta quarta-feira uma série de diretrizes relativamente ao investimento europeu em empresas extracomunitárias, sobretudo em sectores altamente tecnológicos como a inteligência artificial ou os microchips. Com a segurança económica, particularmente ao nível dos abastecimentos, como uma das principais prioridades do novo colégio de comissários, o órgão executivo europeu abre assim a porta a mexidas legislativas com vista a corrigir estes riscos.

 

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