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Fed deve cortar juros na última reunião do ano apesar de divisões internas

O mercado dá como certa nova descida de 25 pontos em dezembro, a terceira seguida, mas é cada vez mais evidente a divergência de visões entre os governadores mais agressivos, os ‘falcões’, e os mais conservadores, as ‘pombas’.
10 Dezembro 2025, 07h00

A Reserva Federal deve voltar a cortar taxas esta quarta-feira na última reunião de política monetária nos EUA este ano, embora haja divisão interna sobre esta decisão. Fruto do shutdown, não haverá dados cruciais relativos a outubro, uma falha ainda mais notória numa altura em que a economia norte-americana parece estar a correr a duas velocidades e o mercado de trabalho entrou numa dinâmica de estagnação.

A última reunião de política monetária de 2025 termina esta quarta-feira e deve culminar em nova descida de 25 pontos base (pb) nos juros de referência norte-americanos, a terceira consecutiva após setembro e outubro. Isto significaria uma taxa diretora entre 3,5% e 3,75%, o valor mais baixo desde 2022, apesar da discórdia no seio do banco central.

Desde a reunião de outubro, a mais recente da Fed, vários governadores têm expressado publicamente as suas visões para dezembro, expondo a divergência de opiniões entre a agressividade dos ‘falcões’ e o conservadorismo das ‘pombas’. Do lado mais hawkish, salienta-se a deterioração do mercado de trabalho nos últimos meses, que aparenta ter entrado numa dinâmica ‘sem despedimentos, sem contratações’; do lado dovish, vários membros do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) nomeados por Trump defendem um corte de juros no imediato.

Os analistas da Ebury argumentam que “os dados que temos recebido não são decisivamente favoráveis a um corte em dezembro, mas também não aparentam suficientes para o excluir”. O principal foco é o emprego: apesar de não haver sinais de despedimentos em massa, o ritmo de contratação abrandou, sugerindo uma estagnação. Ainda assim, um dos motivos para a divisão entre governadores prende-se precisamente com a menor relevância ao emprego atribuída pelos ‘falcões’, que querem atacar a inflação antes que esta se torne demasiado entrincheirada.

Estas divergência espelham também o que cada vez mais economistas pintam como uma economia a duas velocidades. Por um lado, “o consumo está cada vez mais concentrado em famílias de rendimentos elevados, que beneficiam de uma forte dinâmica salarial e de um efeito riqueza substancial decorrente dos mercados acionistas; por outro, as famílias de baixos rendimentos experienciam um crescimento salarial mais fraco e vulnerabilidade em certos segmentos do mercado de trabalho”, explica a análise da Generali AM.

A juntar a isto, os ganhos de emprego têm-se concentrado em setores não-cíclicos, turismo e restauração, e as decisões de investimento fora do segmento tecnológico parecem cada vez mais contidas – indícios de que há assimetrias significativas entre sectores.

O cenário base parece assim ser um corte em dezembro com um discurso mais agressivo de Jerome Powell, presidente da Fed, a sinalizar uma menor probabilidade de novas descidas no arranque de 2026, apontam os analistas. O mercado continua a esperar duas descidas de 25 pb no próximo ano, mas os especialistas da Generali AM consideram esta projeção “demasiado dovish dada a inflação persistente” e apontam a uma taxa terminal de 3,25% a 3,5%.

Além da decisão de política monetária, a Fed irá atualizar as suas projeções macro esta quarta-feira, sendo expectável que reflitam as visões contraditórias entre membros do FOMC. Uma nota da AllianzGI aponta para um padrão semelhante ao registado em setembro, com “crescimento do PIB próximo do seu potencial, um desemprego a tender para o seu nível natural, uma inflação próxima do objetivo”, sendo prováveis ligeiras “revisões em alta do PIB para 2025-2026 e pouca variação no desemprego e na inflação”.


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