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Trump arranca visita a Estados do Golfo à procura de um bilião de dólares de investimento

Riade já havia prometido 600 mil milhões de dólares de investimento, mas Trump quer chegar a um bilião e as vontades de ambos os lados podem alinhar-se, embora a normalização com Israel (onde o presidente dos EUA não passará nesta viagem) não esteja em cima da mesa.
Shealah Craighead/White House
13 Maio 2025, 07h00

O presidente norte-americano aterra esta terça-feira em Riade, na Arábia Saudita, onde iniciará uma visita ao Médio Oriente que contempla ainda os Emirados Árabes Unidos (EAU) e o Qatar – e onde salta à vista a ausência do maior parceiro de Washington, Israel. Os Estados do Golfo planeiam uma elaborada operação de charme a Trump para compensar a menor receita gerada pelo sector petrolífero nos últimos tempos e, em troca, o presidente dos EUA quererá um reforço do investimento no país, isto enquanto a região permanece em alvoroço.

Trump chega esta terça-feira a Riade, onde será recebido pelo príncipe Mohammad bin Salman, o líder de facto do país, e participará numa conferência empresarial e numa cimeira de líderes da região naquela que deveria ter sido a sua primeira visita internacional enquanto 47º presidente norte-americano – algo que a morte do Papa Francisco impediu, dada a presença de Trump nas cerimónias fúnebres no Vaticano.

Tal sublinha a importância da visita, que prosseguirá na quarta-feira no Qatar e quinta-feira nos EAU, de onde o presidente viaja de regresso a Washington. Na agenda está a busca de acordos de investimento com alguns dos países mais ricos do mundo, que têm nos últimos anos tentado diversificar a sua economia para se tornarem menos dependentes de combustíveis fósseis.

Em contactos com Washington no início do segundo mandato de Trump, bin Salman terá garantido que pretende avançar com um pacote de investimento e trocas comerciais avaliado em 600 mil milhões de dólares (539,2 mil milhões de euros), mas o presidente dos EUA quer mais: o objetivo é assegurar um bilião de dólares (898,8 mil milhões de euros), admitiu em janeiro, mostrando-se confiante num desfecho positivo.

Riade tem enfrentado um ano orçamental complicado pela diminuição das receitas energéticas, que caíram 18% em termos homólogos no primeiro trimestre e levaram a um aprofundamento do défice do país, de 2,8% no final do ano passado. A necessidade de elevados investimentos para concretizar o plano de desenvolvimento saudita, a ‘Visão 2030’, pode ajudar a encontrar pontos de entendimento entre os dois países, apontam os analistas, sobretudo dado que o investimento direto estrangeiro na Arábia Saudita está em queda há três anos, fechando 2024 com uma redução de 19%.

Fora da mesa estará, certamente, qualquer acordo de normalização com Israel. Este objetivo de Trump parecia uma questão de tempo no final do seu primeiro mandato, quando os Acordos de Abraão levaram os EAU e o Bahrain a reconhecerem e estabelecerem relações formais com os maiores aliados diplomáticos de Washington, mas o cenário alterou-se radicalmente entretanto.

Frustrado com a falta de avanços para um cessar-fogo em Gaza, Trump poderá mesmo avançar com uma solução concertada com os parceiros do Golfo para governar o enclave palestiniano após a ofensiva israelita de mais de 18 meses ter vitimado mais de 52 mil pessoas, a maioria crianças e mulheres, e destruído quase totalmente a sua infraestrutura civil.

Na mesma linha, o presidente norte-americano não irá passar por Israel nesta visita à região, levantando mais questões entre a sociedade israelita do seu posicionamento para com a atual liderança de Netanyahu. Entre a classe política israelita começam a surgir dúvidas quanto à confiança que merece Trump depois de este ter negociado unilateralmente um cessar-fogo com os Houthis que não incluiu a cessação dos ataques a Israel, preferido a via diplomática na relação com o Irão (por oposição aos ataques militares desejados por Telavive) ou negociado diretamente com o Hamas a libertação do último refém com nacionalidade norte-americana vivo ainda no enclave.

Este pode ser um sinal, apontam os analistas, para as lideranças destes países, mas também para as suas populações, onde o desagrado e a revolta com a inação dos seus governos perante o extermínio dos palestinianos em Gaza têm crescido. Em particular, o vídeo de Trump sobre uma suposta ‘Riviera de Gaza’ enfureceu os cidadãos da região, sendo notório que o presidente tem evitado abordar o assunto recentemente.

Riade colocou como pré-condição para quaisquer negociação com vista a reconhecer Israel o reconhecimento de um Estado palestiniano soberano, enquanto a atual liderança israelita já deixou bem explícito que não permitirá que tal aconteça.

Uma prenda de 400 milhões de dólares

Além da Arábia Saudita, Trump passará pelos EAU, que também já prometeram investimentos de 1,4 biliões de dólares (1,26 biliões de euros) na próxima década na economia norte-americana, antes de chegar ao Qatar, onde deverá receber um Boeing de luxo para usar como Air Force One.

Apesar de ainda não ter sido aprovado internamente pelos representantes qataris, a ideia é oferecer ao presidente um Boeing 747-8 de luxo, aeronave que seria usada por Trump enquanto os dois aviões presidenciais existentes (um modelo semelhante, mas com mais de 30 anos de uso) estão a ser melhoradas. Recorde-se que a situação financeira da Boeing tem levado a atrasos sucessivos na entrega.

Esta possibilidade já está a gerar polémica nos EUA, incluindo junto de algumas figuras conservadoras, dadas as questões éticas levantadas pela prenda de um governo estrangeiro ao líder máximo norte-americano. Peritos legais da Casa Branca estarão já a trabalhar numa análise que valide o presente, sendo que este será inicialmente ao Departamento da Defesa, que depois passará o avião para a fundação que deverá gerir a biblioteca presidencial de Trump no final do seu mandato.

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