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Jean Castex: o ‘senhor desconfinamento’ que já apoiou um rival de Macron

O novo primeiro-ministro francês é um antigo colaborador do presidente Nicolas Sarkosy e apoiante de François Fillon, que correu em 2017 contra Macron. A escolha parece não ter deixado o país seguro da sua pertinência.
3 Julho 2020, 13h49

Aparentemente, a França está ancorada na pandemia de Covid-19: o primeiro-ministro Édouard Philippe passou a ser um peso-pesado da política gaulesa depois de ter respondido à doença de forma que os cidadãos franceses consideraram exemplar e o seu sucessor – Philippe pediu a demissão esta manhã, como estava combinado com o presidente Emmanuel Macron – é o autor do desconfinamento, o o que lhe valeu o cognome de ‘Monsieur Déconfinement’.

Emmanuel Macron já tinha anunciado uma remodelação do governo em junho e a saída de Édouard Philippe já estava prevista pelo menos desde as eleições municipais de há dias – sendo certo que a sua demissão obriga o presidente a ‘deita fora’ aquele que parecia ser o seu melhor trunfo numa altura em que o país passa por uma evidente crise política e Macron precisa de renovar a confiança dos gauleses no seu presidente com caráter de urgência.

Nascido em junho de 1965 em Vic Fezensac, Jean Castex fez parte da sua carreira política nos municípios, o que o coloca numa posição vantajosa para perceber o país real – que nas eleições municipais rumou com determinação para os braços de Os Verdes e de Marine Le Pen, mantendo deserto o interesse pelos socialistas e retirando ao partido de Macron, o Republique em Marche, parte do seu apoio popular. Restabelecê-lo, será por isso, possivelmente, a primeira prioridade do novo primeiro-ministro.

Castex foi autarca em Prades (Pirenéus Orientais) em 2008, conselheiro regional do Languedoc-Roussillon de 2010 a 2015 e conselheiro departamental dos Pirenéus Orientais desde 2015 até há pouco tempo. Pelo meio, teve ainda oportunidade de ser vice-secretário geral da Presidência da República (entre 2011 e 2012).

Já este ano, foi responsável por coordenar a saída gradual da contenção criada em França no contexto da pandemia de Covid-19 – mas a sua prestação merece os mesmos comentários que na maior parte dos países da União Europeia: o desconfinamento está a ser observado como uma saída para o confinamento, quando as autoridades pretendiam, sem o conseguirem em parte nenhuma, Portugal incluído, que não fosse assim. Em França, como em Londres ou em várias outras capitais, têm-se multiplicado as festas e outras manifestações de rua, quase sempre espontâneas, que obrigam à intervenção da polícia – e levam os cidadãos a acharem que há no discurso oficial conselhos que colidem uns com os outros.

Jean Castex formou-se no Instituto de Estudos Políticos de Paris em em 1986 e seguiu depois para a Escola Nacional de Administração, tendo por isso optado por um caminho profissional inserido na administração pública. Ao deixar a academia, em 1991, foi auditor no Tribunal de Contas.

De 2005 a 2006, foi diretor no Ministério da Solidariedade e Coesão Social, tendo transitado no ano seguinte para o Ministério da Saúde e mais tarde, em 2008, para o Ministério do Trabalho. No novembro 2010 foi consultor de assuntos sociais no gabinete do presidente Nicolas Sarkozy.

Teria oportunidade de ser apoiante da candidatura de François Fillon – recentemente acusado de corrupção e condenado a cinco anos de prisão – concorrente à do homem que agora o ‘contratou’, o que já levou os comentadores a afirmarem que a preocupação de Emmanuel Macron é estancar a perda de apoio da faixa que derivou, a quando das presidenciais, do partido Os Republicanos (de Sarkosy) para o República em Marcha. Mas esquece-se – ou para já não há evidências de que se tenha lembrado – que o grosso do apoio popular ao seu partido não terá vindo d’ Os Republicanos, mas sim do Partido Socialista.

As presidenciais não são para já um problema para Macron (serão em maio de 2022), mas o certo é que, se tudo correr bem, o governo chefiado por Castex é aquele que dirigirá o país até lá e o facto de o presidente ter escolhido entre aquela família política pode vir a ser um problema. Outro problema, dizem os críticos, é que Jean Castex aparenta ter pouca experiência em termos de governo central. A não ser que o facto de ter sido delegado interministerial para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2024 em Paris conte para esse currículo.

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