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João Lopes Raimundo: “É muito mais fácil uma empresa criar valor num espaço como o LACS”

LACS é o ‘cluster’ de indústrias criativas que tem como conceito a ‘communitivity of creators’ e põe em convívio as ‘startups’ com os Business Angels, a inovação com a gestão, a arte com a tecnologia. João Lopes Raimundo é o responsável pela vertente cultural associada às artes visuais.
1 Agosto 2018, 07h17

João Lopes Raimundo é empresário, foi banqueiro (passou pelo BCP e foi administrador da Caixa Económica Montepio Geral), fez um curso de Arte Contemporânea no MoMa, em Nova Iorque e, além de ser colecionador de arte é um dos quatros sócios responsáveis pelo LACS – Lisbon Arts Communication & Studios, que inaugurou no passado dia 8 de junho. Filipe Botton, da Logoplaste, Gustavo Brito, arquiteto e fundador do Santos Design District, e Miguel Rodrigues, do grupo Ductos, são os outros donos do LACS, pensado por estes quatro empresários portugueses. O espaço tem um rooftop, com restaurante e bar lounge, que vai abrir no dia 26 de julho, e gelados da marca Santini.

A parte cultural está a cargo de Lopes Raimundo. Sim, porque o LACS é mais do que um espaço de escritórios para empresas e startups, ou de cowork, ou de intervenção artística, ou ainda para realizar palestras. Além de tudo isto é um espaço de comunicação, porque “ao fim e ao cabo o todo é muito mais do que a mera soma das partes”, diz ao Jornal Económico João Lopes Raimundo. O mundo das startups e o mundo da arte fazem parte da própria cultura da LACS.

O novo espaço tem cinco mil metros quadrados e quer que os empresários e gestores trabalhem ao lado de artistas, em espaços amplos comuns onde se aluga o posto de trabalho, ou estúdios que substituem os tradicionais escritórios.

Criatividade, artes plásticas e até novas tecnologias, onde se pode partilhar o mesmo espaço com pessoas de várias empresas é o conceito que João Lopes Raimundo denomina de “communitivity of creators”.

O LACS fica situado em Santos, num edifício de cinco mil metros quadrados (m2) no Cais da Rocha do Conde D’Óbidos, onde antes funcionavam as cantinas e os balneários dos estivadores do Porto de Lisboa. Estava abandonado e devoluto há mais de 20 anos, e conta com quatro pisos — cada um com aproximadamente mil metros quadrados.

Por lá encontramos, entre outras, obras de Jorge Molder espalhadas pelos vários pisos onde se localizam os espaços de cowork e os estúdios que albergam empresas dos mais variados setores, que vão desde a EDP Inovação à gigantesca Cognizant Technology Solutions, uma multinacional que emprega 260 mil pessoas e que está cotada no Nasdaq. Durante a visita, encontrámos Leonardo Mathias e Sebastião Lancastre que lá têm a sua Abypay. Estão cerca de 50 empresas a alugar os espaços do LACS. O sucesso levou os donos do projeto a uma nova etapa: o LACS Cascais, que tem abertura prevista para setembro, mas é possível que não fiquem por aqui.

Para além de empresas de inovação e tecnologia, o LACS também acomoda projetos tão diversos como a Associação Portuguesa de Business Angels e a Carpe Diem Arte e Pesquisa, uma plataforma de pesquisa, experimentação e divulgação de arte contemporânea, que expõe obras de jovens artistas, e até tem, imagine-se, um barbeiro.

No LACS, um dos principais objetivos é  proporcionar o diálogo entre artistas consagrados e jovens pintores. Neste momento, está em exposição uma obra de Inês Norton e, no quarto trimestre deste ano, está prevista uma intervenção de Pedro Cabrita Reis e uma exposição dos jovens artistas vencedores do prémio Arte Jovem 2018, promovido pela Fundação Millennium BCP.

A vantagem, explica João Lopes Raimundo, é pôr em convívio no mesmo espaço várias áreas que se complementam entre si. O conceito do LACS é o de “communitivity of creators” e a arte é uma linguagem universal e intemporal, explica João Lopes Raimundo, pelo que não está assim tão longe das novas tecnologias, do mundo das startups tecnológicas.

O que é que é o LACS?

O LACS é um projeto que se centra na promoção de clusters criativos e que tem uma forte vertente cultural associada, nomeadamente, ao domínio das artes visuais. Pretende criar uma dinâmica interna própria, daí a nossa assinatura “communitivity of creators”. É uma comunidade que comunica, que partilha, e que, ao fim e ao cabo, sabe que o todo é muito mais do que a mera soma das partes. O que se pretende é estimular esta dinâmica interna, que obviamente não vive sozinha, que dialoga com o exterior – temos eventos, exposições, etc., por isso é que isto é um espaço público onde qualquer pessoa pode vir ver o que há de iniciativas culturais.

No fundo aqui alugam-se espaços de trabalho, salas, cadeiras, salas de reuniões e de eventos, e tenho uma série de serviços associados.

Como funciona uma cadeira no cowork?

Aqui há cowork e há estúdios. O nosso maior estúdio tem cerca de 90 pessoas da mesma empresa e também temos estúdios de 4 pessoas. E depois temos o cowork, que é um espaço concreto no qual a pessoa aluga o posto de trabalho.

Mas a cadeira, para além do espaço de trabalho, o que é que traz mais?

Por exemplo, precisas de fazer uma reunião, alugas uma sala de reunião à hora (cerca de 20 euros à hora), tens acesso a salas de reuniões, tens wi-fi, copas, cafetaria e essas coisas todas. Mas, fundamentalmente, tens acesso a uma comunidade. Por exemplo, à Associação Portuguesa de Business Angels. Vamos supor que estás a arrancar com um projeto, que precisas de dinheiro e precisas de saber onde é que estão os Business Angels. Vais ao piso 1 e tens a Associação.

No fundo, o que se pretende é, por um lado, que a esmagadora maioria das empresas aqui instaladas sejam providenciadas pelas outras empresas cá instaladas e, por outro lado, que potenciem negócios entre eles, nomeadamente parcerias para fazerem coisas novas, inclusive para o exterior. É muito mais fácil um empresário criar valor e enriquecer a sua proposta de valor estando num espaço destes do que estando no 3º esquerdo de um edifício no Marquês de Pombal, onde não há nada nem ninguém. Daí o cluster.

O LACS foi o espaço que a organização do Rock In Rio escolheu, na semana do festival, para realizar o Innovation Talks durante cinco dias. Têm outros eventos previstos?

O primeiro-ministro António Costa veio cá no dia 9 de julho, falar de políticas do Governo para as startups. Este espaço, com quase 600 pessoas, pode representar, para as startups, um exemplo de algo que as valorize. Na “Innovation Week”, por exemplo, realizaram-se mais de 100 talks.

Como está a correr o negócio de adesão de membros?

A capacidade já está praticamente esgotada, está tudo praticamente alugado.

Qual o papel de cada um dos donos do LACS?

O Filipe Botton também é acionista, como o Miguel Rodrigues e o Gustavo Brito. Somos quatro sócios e cada um contribui à sua maneira para o desenvolvimento do projeto. É uma cogestão entre todos e eu, uma das coisas que mais gosto de fazer, é toda a parte cultural. A área cultural é aquela a que me dedico mais. E o que é que nós queremos em termos de arte? Queremos estabelecer diálogo entre os artistas consagrados e os jovens artistas. Temos o Jorge Molder, que é um dos maiores fotógrafos portugueses vivos, temos aqui a coleção da Carpe Diem, composta por quase 200 peças, temos artistas jovens e temos também a Inês Norton, fora da coleção. Portanto, queremos este diálogo entre artistas consagrados e artistas jovens. No quarto trimestre vamos apresentar uma intervenção do Pedro Cabrita Reis e uma exposição dos vencedores do prémio Arte Jovem 2018, promovido pela Fundação Millenium BCP. Estou também a planear uma iniciativa engraçada, que é ter um conjunto de jovens artistas, de uma escola, a fazer peças específicas aqui para o LACS.

Como é que se conjuga a arte com o fazer negócio?

Considero a arte uma linguagem intemporal que promove o desenvolvimento individual e o da sociedade em geral. Aliás, é uma componente essencial para o desenvolvimento individual. Se nós pensarmos que há criatividade em tudo e que tudo é inspiracional, vemos pontos de contacto.

Continuam a receber muitos pedidos?

Continuamos. Mas agora, por exemplo, nós vamos abrir o LACS Cascais em setembro, e há pessoas que podem querer estar em Cascais e vir aqui, ou vice-versa. Como membro de Cascais, tenho direito a reunir em Lisboa, e vice-versa. Estou cá e posso fazer eventos em Cascais.

Das empresas que estão cá, todas são startups?

Não. Há vários conceitos. Por exemplo, está cá a EDP DSI, que é a parte de tecnologias da EDP. Alguns desenvolvimentos de software da EDP são feitos cá. Tal como a EDP Inovação que funciona quase como uma incubadora de várias empresas. Estão cá cerca de 50 empresas, incluindo as que estão em cowork, entre as quais a COGNIZANT, uma empresa de tecnologia da informação americana (e é uma das parceiras da Google). O RiR é um dos nossos inquilinos e parceiros, e ajuda na promoção do espaço e de eventos. O RiR é muito mais do que música, e está a desenvolver atividades no ramo da educação e da inovação.

Quem são os vossos parceiros?

Temos a EDP, a PT Empresas, a Tranquilidade, a SMEG, o Rock in Rio, a Robbialac, entre outras.

 

Publicado na edição de 6 de Julho no caderno Et Cetera

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