Penso que já se esperava que este inverno fosse difícil e que os efeitos da vacinação demorassem a se fazer sentir. Este inverno vai testar a resiliência das empresas principalmente em certos sectores, cujo turismo, restauração e eventos são os casos mais óbvios.

Quanto mais restringida a economia neste período, maior o impacto negativo sobre as carteiras de crédito às empresas dos bancos quando terminarem as moratórias. Por outro lado, quando estas terminarem, espero que a economia esteja já em forte recuperação. Por isso, penso que o incremento no crédito a empresas em dificuldade provocado por este aumento de casos de Covid vai ser gerível por parte dos bancos.

No caso do crédito às famílias não vejo grandes problemas. Penso que não existe grande vantagem em prolongar estes prazos para além do período em que a crise pandémica já não esteja a condicionar a actividade das empresas. Não se ganha nada em empurrar as situações problemáticas sem solução para o futuro. Só se estariam a adiar problemas.

As moratórias de crédito estão lá para que as empresas e famílias possam lidar com diminuições de receitas ou rendimentos temporários. Quando a economia estiver a recuperar para os valores de 2019, que penso poderem ser atingidos em 2022 contrariamente ao referido, a maior parte já não vai necessitar das moratórias.

O meu cenário central não é que a economia esteja fechada em 2022. Penso que se vai notar que este confinamento já vai ter um impacto na actividade económica menor do que o da primavera de 2020. A situação vai melhorar, a questão que se põe é a que ritmo.

A generalidade dos bancos abordaram esta crise bem capitalizados e com margem suficiente para lidar com esta situação. Penso que o malparado que vai resultar desta crise vai ser muito localizado em certos sectores e menos generalizado do que em crises anteriores. Os bancos também provisionaram em 2020 de forma adequada levando em consideração as moratórias existentes. O que não quer dizer que os bancos que abordaram esta crise com fragilidades não saiam ainda mais enfraquecidos, mas estes são a exceção e não a regra.

Sou cético quanto ao papel do Estado na capitalização de empresas privadas. Existem linhas de crédito garantidas pelo Estado, a que as empresas tiveram recurso, e, essas por definição, serão parcialmente pagas pelo Estado caso as empresas não possam pagar. As outras linhas de crédito são responsabilidade das empresas.

Penso que os fundos europeus não estão desenhados para salvar empresas. É minha opinião que a saída das moratórias vai trazer algum malparado, bastante concentrado em alguns sectores de actividade, mas que a generalidade dos bancos terá capacidade para aguentar este aumento. Penso que as moratórias terminarem todas na mesma altura cria um risco adicional que podia ser mitigado, por exemplo permitindo que estas vão maturando ao longo do tempo.