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Jörg Kukies, ministro das Finanças da Alemanha: os amigos são para as ocasiões

Ainda não se sabe se Kukies será ministro durante muito tempo, mas em tempos difíceis é preciso recorrer aos que se encontram mais próximos. Foi o que fez o chanceler alemão, que está a caminho de uma derrota eleitoral. Só falta saber quando.
Jörg Kukies Olaf Scholz
Foto: Mario Salerno / EU Council / dpa
7 Novembro 2024, 10h40

O despedimento do ministro das Finanças alemão, o liberal Christian Lindner, não foi propriamente uma surpresa – talvez a surpresa estivesse antes na sua escolha: as diferenças de conceitos, de agendas e de cor política entre Lindner e o chanceler social-democrata Olaf Scholz eram tão grandes, que não foram poucos os analistas que se surpreenderam com a escolha da coligação.

Jörg Kukies, que substitui o liberal acusado de ‘compadrio’ com alguns agentes económicos, será o próximo ministro das Finanças da Alemanha. Sendo um conselheiro de assuntos económicos próximo de Scholz, a sua escolha quer dizer duas coisas: que o chanceler quer alguém com conhecimentos consolidados naquela que será a pasta fundamental para o país no próximo ano; e que, ao mesmo tempo, seja alguém que não lhe aumente as dores de cabeça políticas.

É por isso, uma escolha ‘à defesa’, para os tempos difíceis que aí vêm. Para todos os efeitos, a proximidade entre ambos indica que a corrente interna na coligação que defende o aumento dos investimentos públicos para relançar a economia – mesmo que isso tenha de ser feito à custa do aumento da dívida federal – venceu. Aparentemente, o mercado dá ao chanceler o benefício da dúvida – ou talvez a última oportunidade, dependendo dos pontos de vista: os títulos da dívida germânica a dez anos mantiveram-se estáveis mesmo depois de conhecido o nome do ministro que vai substituir o liberal despedido.

Especialista em questões económicas, Jörg Kukies, de 56 anos, assume a pasta das Finanças num governo em crise, que já não tem maioria no Parlamento de Berlim e no qual apenas restam representantes dos partidos Social-Democrata (SPD) e dos Verdes. Os liberais retiraram-se, antecipando com certeza eleições antecipadas e recolocando o partido no lugar que tradicionalmente lhe corresponde: o de formação ‘pau para toda a colher’ – ou seja, disponível para fazer coligações quaisquer que sejam os partidos ‘necessitados’, CDU ou SPD. Um partido de ‘banda larga’ portanto, imprescindível em momentos de aperto, mas ‘descartável’ quando começa a manifestar sintomas de ter ‘vontade própria’. Foi o que sucedeu esta semana.

Os três outros ministros do Partido Democrático Liberal apresentaram a demissão ao fim da noite de quarta-feira, adianta a Lusa, provocando uma crise na coligação governamental alemã. Entretanto, Volker Wissing, o ministro dos Transportes, retirou a demissão e disse aos jornalistas na manhã de quinta-feira que, depois de falar com Scholz, tinha decidido continuar. Alternativamente, abandonou o partido. Banda larga. Mais uma vez. Os outros dois ministros do FDP que se demitiram podem vir a ser substituídos, indicou de manhã a agência noticiosa alemã DPA.

O novo ministro trabalhou na Goldman Sachs em Londres a partir do ano 2000, tendo transitado, entre 2004 e 2011 para o escritório de Frankfurt, onde foi responsável pela secção de Ações e Produtos Estruturados. Foi nomeado diretor administrativo em 2006 e sócio em 2010. A partir de 2011, regressou a Londres, para, no final desse ano, receber a co-presidência da Goldman Sachs para a Alemanha e a Áustria. Em 2018, o ministro federal das Finanças do gabinete Merkel IV, que se chamava Olaf Scholz, trouxe-o para o seu ministério como um dos três novos secretários de Estado. Jörg Kukies ficou responsável pela Europa e pelo mercado financeiro – mas desde cedo começou a ser criticado pelos partidos à esquerda do espectro político alemão: da Goldman Sachs nunca vem ninguém recomendável, diz a esquerda alemã, no que é, aliás, seguida pela esquerda de todo o planeta.

Quando Olaf Scholz assumiu o cargo de chanceler federal em 8 de dezembro de 2021, Kukies tornou-se secretário de Estado na Chancelaria Federal, onde chefiava o Departamento de Política Económica, Financeira e Climática e o Departamento de Política Europeia. O novo ministro era frequentemente encontrado nas cimeiras do G7 e do G20, mas também em Davos e nas Conferências de Bilderberg.

Recorde-se que que Scholz anunciou na quarta-feira que vai pedir um voto de confiança no dia 15 de janeiro, o que, se for rejeitado, pode provocar a eleições antecipadas já em março de 2025. Antecipadas ou não, as próximas eleições serão de derrota para o atual chanceler. A não ser que o SPD o convença a nem sequer se apresentar.

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