As nossas sociedades registaram, ao longo das últimas décadas, alterações várias, de variados tipos e com diferentes impactos para o tempo que virá. No entanto, nunca qualquer sociedade anterior à actual foi confrontada com uma mudança tão rápida da sua estrutura etária.

De facto, ao mundo do pós-guerra, inundado de jovens, sucede, num período historicamente curto, uma sociedade em que os velhos são dominantes e tendem a ser largamente maioritários. Enquanto a uns é preciso dar esperança, expectativas de futuro e um desígnio mobilizador, aos outros importa manter activos e deles importa cuidar.

Se, como diz Maxime Sbaihi, “a democracia é a maioria e a maioria é a demografia”, seremos conduzidos a uma sucessiva fixação de prioridades não em função do devir, mas do presente, ou, pior, do passado.

Portugal tem dois milhões e meio de pessoas com mais de sessenta e cinco anos e quase duzentos idosos por cem jovens. Para a agenda política que é preciso construir, e no sistema político que urge vivificar, é necessário assumir que para existir vontade de participar e, desde logo, de votar, não basta a obrigação cívica, é preciso, como diz François Hollande, “alimentar uma esperança”.

Do que aqui se trata é de alimentar várias e variadas esperanças. Não há uma juventude, há várias juventudes. Não é igual ser jovem com uma expectativa patrimonial, por via hereditária, ou viver guetizado num subúrbio; não é indiferente a escola que se frequentou; não é indiferente ter crescido num centro urbano, ou no abandonado interior.

Há, contudo, preocupações, ou angústias, que são comuns a uma larga maioria: a precariedade e instabilidade laborais, a entrada no mercado de trabalho, os níveis remuneratórios e o desemprego jovem; uma certa incapacidade de aceder à titularidade de qualquer património. E é para estes problemas, e outros, com que a maioria dos jovens se confronta, que é preciso encontrar uma agenda de esperança.

A solidariedade entre gerações é, hoje, também a capacidade que os maioritários velhos tiverem para dar esperança à minoria, i.e., aos jovens.

Esta é uma sociedade com novas relações de poder, com novos grupos dominantes, e, sobretudo, com novas realidades que “não cabem” nos quadros mentais, e legais, que fomos criando ao longo de séculos. Mas, não há futuro sem juventude e não há esperança colectiva que sobreviva ao seu afastamento, pior, à sua ausência.

Quando a distância entre gerações aumenta, como é o caso actual, ganha especial sentido a afirmação de François Mitterand: “se a juventude não tem sempre razão, a sociedade que a ignora e que a ataca nunca tem razão”.