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Juntar universidades e empresas traz inovação e soluções para o mundo

Uma ideia que já estava a tomar forma nos laboratórios do centro de investigação da Universidade de Coimbra está a concretizar-se numa solução que as Infraestruturas de Portugal procuravam. Os primeiros passos já foram dados e os resultados são promissores. Agora é preciso passar à fase seguinte.
6 Junho 2025, 07h55

Quando equipas multidisciplinares já trabalharam durante meses e horas a fio, tudo parece simples e fácil.
Liquefazer borracha para impermeabilizar madeira pode ser óbvio, mas nem tudo se faz do dia para a noite.

Na verdade, para se chegar a uma solução que proteja realmente a madeira e possa ser aplicada nas milhares de travessas das linhas férreas que temos em Portugal, é preciso muito conhecimento, muito trabalho e muita tecnologia. Falamos de um projeto que envolve a Universidade de Coimbra, através do seu centro de investigação designado por Chemical Engineering and Renewable Resources for Sustainability e mais conhecido por CERES, e a Infraestruturas de Portugal (IP). Tudo tem acontecido no âmbito do programa NextLap Tech Hub, um programa de inovação promovido pela Valorpneu em colaboração com a consultora de inovação Beta-i.

No início era uma ideia

Como explica Giulia Clare, aluna de doutoramento e um dos elementos da equipa do projeto por parte do CERES, tudo começou com uma ideia vinda do Departamento de Engenharia Civil: criar uma borracha líquida para proteger materiais de construção. Entretanto, no âmbito da participação da professora Elisa Campos, coordenadora da equipa, na segunda edição do programa NextLap, “houve contacto com empresas, o que permitiu abrir os nossos olhos para outras aplicações da borracha, como o revestimento de outros tipos de materiais”, continua a aluna. O passo seguinte foi provocado pela IP, que tinha nas mãos um problema: as travessas de madeira que ligam as linhas férreas são revestidas com creosoto, um material que, há relativamente pouco tempo, foi caracterizado como altamente tóxico, devendo, por isso, ser substituído.

A colaboração como peça-chave

“As universidades são vistas como instituições de transmissão de conhecimento, mas têm também capacidade de gerar conhecimento”, defende a professora Luísa Durães, coordenadora deste grupo de investigação. E esclarece que “isso só acontece se houver proximidade entre a universidade e o mundo real, o das empresas. São as empresas que vão constituir a força condutora para nós fazermos o desenvolvimento.” De facto, foi no âmbito do NextLap Tech Hub que se encontraram o CERES, com a sua solução de borracha líquida, e a IP, com a sua necessidade de um novo revestimento para madeira. Estava feita a parceria e criadas as condições para que se concretizasse esta inovação. “No âmbito do NextLap Tech Hub, tivemos contacto com a IP e esta motivou-nos a transferir a nossa tecnologia, que tinha uma abordagem meramente laboratorial e científica, para o mercado e para um problema real”, conclui.

A partir de pneus em fim de vida

“A borracha dos pneus em fim de vida funciona como a nossa matéria-prima principal para produzir a solução de borracha líquida”, revela Diogo Gouveia, aluno de licenciatura e um dos investigadores da equipa do CERES. Este é, sem dúvida, um dos fatores positivos deste projeto. Mas o mais importante é que os resultados da investigação são, por si, uma promessa de sucesso. “Produzir a solução de borracha líquida através de um solvente e depois aplicá-la na madeira não foi o mais difícil”, conta Diogo, que se viu a braços com os quase três metros de comprimento das travessas de madeira, o que, num laboratório, é um tamanho incomportável, mas, obviamente, não tornou impossível o trabalho. A travessa foi cortada em lâminas menores e os testes prosseguiram.

Resultados promissores

“Através dos testes que temos feito, a nossa solução consegue cumprir com os objetivos. Até ao momento, temos tido resultados bastante promissores e temos uma boa perspetiva futura”, diz Diogo. Mas o projeto ainda não está pronto para libertar as nossas linhas de ferro do creosoto. Giulia esclarece que as propriedades antifúngicas da solução já foram testadas e apresentaram bons resultados: “Mas o que fizemos foi colocar as madeiras em condições semelhantes e observar o desenvolvimento de fungos ao longo do tempo. Observámos durante uns dias e comparámos visualmente, para ver se havia aparecimento de fungos. No entanto, o mais correto seria comprar fungos da madeira e testá-los em condições específicas. Fizemos este primeiro teste, vimos que é promissor, mas é preciso fazer uma pesquisa mais aprofundada para obter uma caracterização mais complexa.”

O próximo passo

Para chegar ao mercado e às travessas de madeira, a solução de borracha líquida está num ponto de desenvolvimento que tem, agora, necessidade de novos parceiros. Por um lado, há que testá-la nas travessas reais, com os seus quase três metros de comprimento. Por outro, será necessário dar escala à produção da borracha líquida. “Em laboratório produzimos alguns mililitros da solução, mas serão necessários muitos litros para cobrir as necessidades da IP”, explica Giulia Clare. Uma coisa é certa: o projeto já tem bastante caminho andado e, impulsionado pelo programa de inovação NextLap Tech Hub, é fácil acreditar que os parceiros certos surgirão na altura certa.

 

 

Este conteúdo patrocinado foi produzido em parceria com a ValorPneu.

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