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Juros da dívida alemã com maior subida diária em 28 anos com plano de investimento

Economia alemã vai crescer 2% em 2026, contra a previsão anterior abaixo de 1%, se o novo plano de investimento for aplicado rapidamente. Analistas apontam que plano é “muito positivo para o risco”.
HANNIBAL HANSCHKE/EPA via Lusa
5 Março 2025, 17h19

Os juros da dívida alemã a 10 anos, os bunds, sofreram esta quarta-feira o maior disparo diário em 28 anos, desde 1997, com uma subida de mais de 25 pontos para 2,73%, segundo o “Financial Times”.

Nem na crise financeira de 2008 ou a crise do euro a partir de 2010 a dívida alemã sofreu um agravamento diário tão forte.

O futuro chanceler alemão Friedrich Merz anunciou na terça-feira uma alteração à política orçamental altamente conservadora do país e que tem limitado os défices estruturais a 0,35% do PIB, de forma a travar o aumento da dívida. Com a emenda proposta por Merz, gastos com defesa até 1% do PIB deixam de contar para este limite, sendo que o país irá ainda criar um fundo de 500 mil milhões de euros para investir em infraestruturas. Este montante corresponde a 11,6% do PIB alemão em 2024, o que permite ter uma noção da sua dimensão relativa.

A ideia de reformar – ou pelo menos avançar com alterações significativas – ao travão constitucional vinha ganhando força nos últimos anos, sobretudo dada a necessidade de reinvestir no país após o falhanço do seu modelo económico. Com a pressão criada pela postura cada vez mais isolacionista dos EUA e subsequente abandono dos seus parceiros da NATO, Berlim avançou com rapidez para esta solução.

As eleições do passado dia 23 de fevereiro resultaram numa ‘Grande Coligação’ entre os democratas cristãos da CDU, os vencedores da eleição, e os socialistas do SPD, do incumbente Olaf Scholz, que se aproxima dos dois terços necessários para avançar com a reforma do travão constitucional da dívida, um tópico quente da discussão económica na Alemanha.

Contas feitas, estas duas bancadas em conjunto com Os Verdes ficam a precisar de apenas mais sete votos para avançar com as alterações propostas. No entanto, na atual configuração do Bundestag (que vigorará até 23 de março), estes três partidos têm já os votos necessários, pelo que a emenda referente aos gastos com defesa deve avançar no imediato, uma ideia defendida inicialmente precisamente pelo partido ambientalista.

Os juros estão a subir “devido à percepção de que a Alemanha está a abrir a torneira do crescimento. É muito positivo para o risco” destacou Karen Ward do JPMorgan AM.

O acordo na Alemanha foi descrito pelo Deutsche Bank como uma das “maiores mudanças históricas no paradigma na história do pós-guerra”, com os economistas admirados com a velocidade e a magnitude esta expansão orçamental que coloca este acordo ao nível da “reunificação alemã”.

Já os analistas do Goldman Sachs consideram que o pacote deverá provocar um disparo no crescimento da economia alemã em 2% em 2026, contra a previsão anterior de 0,8%, caso seja aprovado e implementado rapidamente. O banco de investimento deixou ainda cair a sua previsão de paridade euro-dólar este ano, tal como, por exemplo, a Société Générale, que recomenda agora a compra de euros, antecipando uma valorização em torno de 10% nos próximos meses.

Nos mercados, a moeda única reagiu em alta com uma subida acima de 1% para 1,075 dólares, a mais elevada desde novembro. Já a bolsa de Frankfurt está a subir 3,7% para mais de 23.100 pontos.

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