A presidente interina do Kosovo, Vjosa Osmani, dissolveu o Parlamento e convocou eleições parlamentares antecipadas para 14 de fevereiro – na repetição de mais um ato eleitoral que tem sido uma constante, levando ao cansaço da população que vive em pobreza generalizada. Desde a declaração de independência, em 2008, nenhum governo foi capaz de completar o seu mandato.
Os eleitores votarão este fim-de-semana menos de um ano e meio após as eleições legislativas de outubro de 2019, que ditaram a derrota histórica dos antigos combatentes que tinham dominado a vida política após a independência.
Um primeiro governo de coligação, formado após essas eleições pelo partido Vetevendosje (VV), nacionalista de esquerda, de Albin Kurti, e o LDK, de centro-direita, caiu após alguns meses de governação, dando lugar a novo governo de coligação, desta vez liderado por Avdullah Hoti, membro do Partido Democrático do Kosovo, aliado ainda a LDK.
Mas o Supremo Tribunal decidiu no final do ano passado que a nomeação do gabinete de Avdullah Hoti pelo Parlamento, em junho, era inválida devido à condenação por corrupção de um dos seus membros.
Só para piorar, o presidente anterior, Hashim Thaçi demitiu-se do cargo em novembro do ano passado para responder às acusações do Tribunal Especial para o Kosovo em Haia. Liderou na guerra contra a Sérvia o UÇK e está acusado de detenção ilegal, tortura e assassinato de civis e opositores.
Aos 52 anos, Hashim Thaçi tem uma carreira política longa. Presidente do Partido Democrático do Kosovo desde 1999, primeiro-ministro desde a independência (em 2008) até 2014, depois vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros até 2016 e a partir daí presidente da República.
Antes de 1999, Thaçi liderou o UÇK, Exército de Libertação do Kosovo, grupo que lutava pela separação da região da Sérvia e que era financiado pela Albânia. Desde aí, tem sido acusado de várias atrocidades e da limpeza étnica dos sérvios da região.
A acusação foi formalizada pelo Tribunal Especial a 26 de outubro. Como resultado, Hashim Thaçi abandonou a presidência da República para comparecer no julgamento. Acompanham-no outros ex-dirigentes do grupo armado separatista: Kadri Veseli, presidente do partido de Thaçi, Rexhep Selimi, deputado, Jakup Krasniqi e Salih Mustafa, ex-chefe dos serviços de Inteligência do exército kosovar.
São ao todo 170 os crimes de que estão acusados, sendo que as vítimas foram sérvios, ciganos e genericamente todos os que foram considerados cooperantes com as autoridades sérvias.
A guerra do Kosovo ocorreu no final dos anos 1990. Causou cerca de 10 mil mortos e há ainda mais de 1.600 pessoas desaparecidas. A guerra acabou depois de a NATO ter bombardeado a Sérvia durante 78 dias (com o apoio do atual presidente norte-americano, Joe Biden) depois dos quais foi possível um acordo de autonomia ampla para o território.
As novas eleições realizam-se num cenário de pandemia, que atingiu severamente o Kosovo, país com 1,8 milhões de habitantes e onde se registam cerca de 1.400 mortos.
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