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Lagarde avisa que combate à inflação continua e promete não descansar até chegar aos 2%

No discurso de abertura do fórum dos bancos centrais, em Sintra, a presidente do BCE disse ser notável o que foi conseguido na redução da inflação, mas alertou que nada está garantido. Próximas decisões de redução das taxas de juro terão de ser suportadas pela avaliação da informação a cada reunião.
2 Julho 2024, 07h30

Já se jogava há 10 minutos o Portugal-Eslovénia, dos oitavos de final do Campeonato da Europa de Futebol, quando a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, iniciou o discurso de abertura do Fórum do BCE, que terminaria com o aviso de que o combate contra a inflação ainda não terminou e, como nos jogos de futebol, só terminará no final.

Num discurso recheado de referências futebolísticas, Christine Lagarde começou por citar Alex Ferguson, ex-treinador do Manchester United, para abordar o tema do Fórum do BCE deste ano, “a política monetária numa era de transformação” e o percurso feito pela autoridade monetária europeia no combate à inflação.

“Por vez, não temos a certeza, outra vezes temos dúvidas; por vezes, temos de adivinhar e, por vezes, simplesmente sabemos”, disse, citando Ferguson.

“Embora a maioria de nós concorde que a economia está em processo de mudança substancial, imagino que as perspetivas sobre quais serão os resultados são muito mais divergentes”, afirmou Lagarde a uma plateia composta por governadores de bancos centrais, economistas e académicos. “Esta falta de clareza constitui um importante desafio para decisores de políticas, pois temos de tentar compreender as transformações e, ao mesmo tempo, orientar a economia quando estão a decorrer”, acrescentou, defendendo que grande parte do desafio, nos últimos anos, em termos de política monetária, envolveu estabilizar a inflação, num contexto de incerteza fundamental da economia.

“Conseguimos navegar essa incerteza e avançámos bastante na luta contra a inflação”, disse a presidente do BCE, mas avisou, depois, que o combate contra a inflação ainda não está terminado e que, apesar das boas indicações, nada está garantido.

“O nosso trabalho ainda não está feito e temos de permanecer vigilantes”, afirmou Christine Lagarde. “Presentemente, ainda enfrentamos várias incertezas quanto à inflação futura, em particular em termos de como evoluirá o nexo entre os lucros, os salários e a produtividade e no que toca à possibilidade de a economia ser afetada por novos choques do lado da oferta”, disse. “Levará algum tempo até dispormos de dados suficientes para termos a certeza de que os riscos de uma inflação superior ao objetivo se dissiparam”, acrescentou.

O BCE reduziu as suas principais taxas diretoras em 25 pontos base, a 6 de junho, pela primeira vez desde 2019, depois da mais rápida subida das taxas de juro da sua história, entre julho de 2022 e setembro de 2023, quando a inflação atingiu um máximo de 10,6%, em outubro de 2022.

Na altura, o Conselho de Governadores da autoridade monetária europeia sustentou ser “apropriado moderar o nível de restritividade da política monetária, após as taxas de juro terem sido mantidas constantes durante nove meses”.

Hoje, no Fórum BCE, que decorre até amanhã, em Sintra, Christine Lagarde fez uma visita guiada pelo caminho feito no processo de combate à inflação, para dizer que este não terminou e que, “dada a magnitude do choque inflacionista, ainda não está garantida uma aterragem suave”, mesmo que estejamos no início do que se considera ser um novo ciclo de taxas de juro.

“Confrontados com múltiplos choques de grande dimensão, deparámo‑nos com uma incerteza significativa relativamente à forma de interpretar e classificar a informação que recebíamos da economia”, recordou, explicando que o BCE definiu “um quadro para cobertura face a esta incerteza, combinando projeções com dados atuais sobre a inflação subjacente e a transmissão monetária”, que o ajudou a navegar as fases de “aumento da restritividade” e de “espera” do ciclo de política monetária e lhe deu “a confiança necessária para realizar um primeiro corte das taxas na mais recente reunião de política monetária”.

Lagarde, que sublinhou ser “notável” o que foi feito para baixar a inflação, referiu que os governadores continuam a recolher informação sobre eventuais movimentos de pressão sobre a evolução dos preços, mas também do impacto na economia.

“Também precisamos de ter em conta que as perspetivas de crescimento continuam a ser incertas”, disse.

“Tudo isto apoia a nossa determinação em seguir uma abordagem dependente dos dados, reunião a reunião, na tomada de decisões de política monetária”, apontou.

Num discurso marcado por referências futebolísticas, que começou com citações do ex-treinador do Manchester United Alex Ferguson, a presidente do BCE terminou a citar o ex-treinador de Sporting e FC Porto Bobby Robson, que dizia que, num jogo de futebol, “os primeiros 90 minutos são os mais importantes”.

Uma mensagem importante, com uma segunda leitura, especialmente quando se assiste a um europeu de futebol com muitos jogos decididos nos últimos minutos.

“Não descansaremos até termos ganho o jogo e a inflação tiver regressado a 2%”, prometeu Lagarde. “Levará mais de 90 minutos, mas chegaremos lá”, asseverou.

No europeu, no caso da equipa francesa, referida pela parisiense presidente do BCE, feliz, o apuramento foi garantido com um golo aos 84 minutos de jogo, e Portugal precisou de 120 minutos de tempo regulamentar e dos penaltis para se apurar.

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