O Banco Central Europeu (BCE) rejeita cantar vitória sobre a inflação no imediato, embora reconheça que os riscos estão agora balanceados e a trajetória do indicador aparentemente em queda. As prováveis tarifas norte-americanas teriam, no imediato, um efeito inflacionário e negativo sobre o crescimento, ainda que a sua aplicação seja ainda incerta, projetou a presidente Lagarde, que apontou para a persistência da pressão nos preços do lado dos serviços.
Após a decisão de cortar os juros em 25 pontos base (p.b.) pela quarta vez este ano, deixando a taxa de referência em 3%, a presidente do BCE falou numa decisão unânime, apesar de reconhecer “discussões relacionadas com uma descida de 50 p.b.”. A escolha acabou por recair num corte de igual dimensão aos anteriores este ano, com Lagarde a justificar a decisão por três fatores.
Por um lado, há seis exercícios de projeção que a inflação é vista a convergir para o objetivo de médio prazo do BCE, ou seja, 2%, conferindo maior confiança aos membros do Conselho do banco que as expectativas estão bem ancoradas; por outro, uma série de indicadores avançados, além do crescimento salarial ou custo unitário por trabalhador, “apontam […] para um cenário compatível com 2%” de inflação.
Finalmente, “os riscos para a inflação são agora claramente balanceados”, o que levou o BCE a “remover a menção à restritividade” no seu comunicado de política monetária de dezembro.
Ainda assim, Lagarde garante que a postura do banco central “continua a ser restritiva, não há qualquer dúvida disso”. Simultaneamente, e procurando evitar considerações sobre a taxa neutra na zona euro, a presidente do BCE admitiu que “a sabedoria convencional à volta da mesa é que está um pouco mais alta do que antes por um conjunto de motivos que exploraremos em tempo oportuno”, indicando que agora seria “prematuro” entrar nesse debate.
A reunião de dezembro teve também uma atualização das projeções macroeconómicas do banco central, que aponta agora a menos crescimento este ano e no próximo, além de uma inflação mais baixa em 2025. Estas projeções não incluem, contudo, nenhum impacto das expectáveis tarifas norte-americanas aplicadas a exportações europeias – uma política que, para Lagarde, arrisca ter um efeito negativo no crescimento e agravar a inflação.
“A incerteza vinda dos EUA não está incluída nas nossas projeções de base, apenas as prometidas reduções fiscais que ambos os candidatos sinalizaram”, indicou Lagarde. Simultaneamente, e sem comentar situações políticas internas de qualquer Estado-membro, a presidente do BCE reconheceu que a falta de comunicação de alguns países relativamente aos seus planos orçamentais para o próximo ano “torna a projeção um pouco mais complicada”. Recorde-se que o orçamento proposto pelos Países Baixos foi rejeitado por Bruxelas por representar um acréscimo insustentável da despesa, enquanto Alemanha e França ainda não aprovaram propostas orçamentais para o próximo ano.
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