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Lagarde e Powell mantêm marcação cerrada à inflação

São dois encontros cruciais para duas das maiores economias mundiais. Analistas consideram certas as subidas em julho, mas os mercados/empresas/famílias vão estar muito atentos às palavras de Powell e Lagarde para tentar antecipar o que se segue.
24 Julho 2023, 07h30

Mais uma semana de grandes decisões de política monetária em duas das maiores economias mundiais. A Reserva Federal norte-americana (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE) anunciam as suas decisões na quarta-feira, 26 de julho, e na quinta-feira, 27 de julho.

Começando a olhar para a zona euro, os analistas consideram que uma subida de 25 pontos base (p.b.) é certa, ficando por saber o que esperar dos próximos encontros.

A instituição sediada em Frankfurt já subiu os juros por oito vezes consecutivas desde julho de 2022 num total de 400 p.b..

Na semana passada, a taxa Euribor a 12 meses, a mais usada em Portugal nos créditos à habitação com taxa variável atingiu um novo máximo desde novembro de 2008 (4,150%), segundo a “Lusa”. As Euribor a 12 meses pesam mais de 40% no stocks de créditos à habitação própria permanente com taxa variável, liderando face à Euribor a seis (34%) e três meses (23%), segundo dados do Banco de Portugal.

A inflação anual na zona euro foi de 5,5% em junho, recuando dos 6,1% registados em maio, estando atualmente no valor mais baixo desde o início de 2022. Entretanto, o Eurostat anunciou esta semana a revisão em alta dos dados económicos do primeiro trimestre do ano, revelando que, afinal, a zona euro não entrou em recessão técnica. Desta forma, a economia da zona euro manteve-se inalterada face a período homólogo (0,0%).

Os economistas consultados pela “Reuters” são unânimes em prever uma nova subida de 25 pontos em julho, e mais de 50% preveem nova subida em setembro, uma forte revisão em alta. A maioria dos inquiridos não vê cortes de juros antes do final do primeiro trimestre de 2024.

No encontro do BCE em Sintra no final de junho, Christine Lagarde mostrou as suas garras com um discurso de falcão, garantindo que as taxas são para subir até a inflação recuar para a meta de 2%.

“Já fizemos muita estrada. Aumentámos as nossas taxas em 400 p.b. em mais de um ano e ainda temos caminho a fazer. Sabemos que iremos subir novamente em julho”, afirmou no encontro com outros banqueiros centrais que teve lugar em Portugal.

Questionada sobre uma subida em setembro, Christine Lagarde disse que a decisão só será tomada depois de analisados os dados mais recentes: “estamos dependentes de dados, é preciso decidir reunião-a-reunião. Em setembro, iremos receber muitos dados, iremos ter muita coisa nas nossas mãos”.

“Para este encontro não vai haver grande surpresa e vamos ter um aumento de 0,25%, seguramente. Seria uma enorme surpresa se o aumento não fosse anunciado. E também seria uma enorme surpresa se o ritmo aumentasse outra vez para 0,5%. O BCE vai fazer aquilo que mais ou menos pré-anunciou na última reunião e subir 0,25%”, começa por dizer Pedro Assunção da Første.

“Se olharmos para as reuniões a seguir, vai ser mais duvidoso que haja necessidade de mais aumentos e isso vai depender muito dos dados económicos. Eventualmente, não tanto dos dados da inflação, mas muito dos dados do crescimento da economia da zona euro, se começar a haver mais provas de abrandamento desse ritmo de crescimento na zona euro, eventualmente o BCE pode pausar durante a reunião de setembro, continuar sempre com a porta aberta para novos aumentos de taxas, não fecharem a porta, para não criarem uma pressão inflacionista maior, mas continuar sempre com essa possibilidade em aberto de subir taxas e continuar a controlar a economia, consoante os dados. Neste momento, parece mais provável que haja um aumento em julho, do que outro em setembro, do que haja um aumento em julho e uma pausa em setembro. Só digo que essa pausa é possível se a economia começar a mostrar alguns sinais de abrandamento”, de acordo com o CIO da Første.

Já Marco Silva começa por destacar que a inflação core na zona euro subiu em junho para 5,5% em termos anuais, o “que deveria implicar uma continuação do apertar do cinto da política monetária para além da subida de 0,25% esperada para a próxima reunião”.

“Contudo, o BCE tem tendência a ser mais lento nas reações, muito devido à maior divisão de opiniões dos seus membros, o que já se revelou uma péssima característica nas duas últimas décadas. Daí que, embora seja expectável pelo menos mais duas a três subidas de 0,25% cada, o caminho é mais incerto, quando comparado com o do Fed”, segundo o consultor de investimentos.

“A subida de julho já é dada como certa, comunicaram que vão subir e não vai ser uma surpresa para ninguém. A questão é saber se vão subir em setembro ou não. Para o próximo encontro, a comunicação vai ser a parte mais difícil… uma pausa ou uma subida, provavelmente vão manter o futuro em aberto. Vai ser uma decisão renhida”, disse à “Reuters” Bas van Geffen do Rabobank.

Já a XTB destaca que “apesar dos sinais de um novo abrandamento em junho (…) a inflação continua a ser a principal preocupação do BCE, e presume-se que uma subida da taxa de 25 p.b. para 3,75% seja quase certa”.

“O verdadeiro interesse será a comunicação para as próximas reuniões e se a subida da próxima semana será a última ou se se seguirão outras. Se a subida da próxima semana for assinalada como a última, isso desencadeará uma reação dovish. No entanto, é mais provável que o BCE deixe a porta aberta para outra subida da taxa de 25 p.b. na reunião de setembro”, acrescenta a XTB.

27 de julho de 2023 (Quinta-feira): Reunião de política do Banco Central Europeu (BCE)

Na sua reunião de junho, o BCE aumentou a taxa de juro de facilidade permanente de depósito em 25 pontos base para os 3,5%, como amplamente esperado. A decisão foi acompanhada por um tom hawkish, uma vez que as projeções de inflação do BCE para 2024 e 2025 foram revistas em alta. A Presidente do BCE, Lagarde, declarou que era muito provável uma subida das taxas em julho e que o BCE não estava a considerar uma pausa.

 

FED vai à frente num caminho semelhante

A Reserva Federal volta a reunir esta semana, com o anúncio da decisão de julho sobre os juros diretores marcada para quarta-feira, com o mercado firmemente apostado em nova subida de 25 p.b., em linha com o indicado pelos representantes do organismo.

A decisão de deixar inalteradas as taxas de referência na reunião de junho foi explicada com a necessidade de avaliar os efeitos cumulativos da subida mais agressiva dos juros em 40 anos e a economia norte-americana parece estar a dar boa resposta. O processo desinflacionário é claro e a atividade continua sólida, aumentando as perspetivas de uma ‘aterragem suave’, como tem vindo a ser almejado pelos decisores de política monetária.

A leitura de 3,1% em termos homólogos foi um sinal claro e positivo da maior economia do mundo e, apesar de a taxa subjacente se manter elevada em termos homólogos (4,8%), a leitura foi a mais baixa desde outubro de 2021.

Ainda assim, o valor fica muito acima do objetivo da Fed, denota Marco Silva. Tal “deixa pouca margem para o banco central norte-americano não seguir com a sua estratégia de subir os juros em 0.25% já na reunião da próxima semana”, com o analista a apontar ainda a nova subida em novembro.

O caminho a percorrer após julho tem-se tornado cada vez mais central nas discussões em torno da política monetária norte-americana. Se a subida de 25 p.b. é um cenário dado como certo, o mercado atribui quase 16% de probabilidade a igual decisão logo em setembro; em novembro, a probabilidade de uma taxa 50 p.b. superior à atual é de 27,8%, de acordo com a análise da CME FedWatch Tool.

Já no que toca à redução dos juros, apenas 55% dos economistas consultados pela “Reuters” estimam uma redução de juros até março do próximo ano.

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