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Lar de Reguengos: Ordem dos Médicos garante que nunca foi recusado tratamento a idosos

A Ordem dos Médicos solicitou uma audiência urgente ao primeiro-ministro, depois de revelada uma gravação onde António Costa critica a atuação dos profissionais de saúde no lar de idosos de Reguengos de Monsaraz.
Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães
24 Agosto 2020, 12h48

A Ordem dos Médicos quer reunir-se com o primeiro-ministro devido à polémica em torno das mortes no lar de idosos da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS) em Reguengos de Monsaraz, onde um surto de Covid-19 provocou a morte de 18 pessoas.

A Ordem anunciou hoje que “solicitou ontem, com caráter de urgência, uma audiência ao senhor primeiro-ministro”.

Simultaneamente, o “Bastonário da Ordem dos Médicos convocou com caráter de urgência o Fórum Médico, composto por todas as estruturas nacionais representativas dos médicos, reunião que vai acontecer hoje, segunda-feira, para honrar a coragem e a qualidade dos médicos e implementar todas as medidas que forem necessárias, a nível nacional e internacional, para respeitar e valorizar os médicos”.

No domingo, foi revelada nas redes sociais um vídeo onde o primeiro-ministro criticava a atuação dos médicos no lar de idosos de Reguengos de Monsaraz. “É que o presidente da ARS [Autoridade Regional de Saúde] mandou para lá os médicos fazer o que lhes competia e os gajos, cobardes, não fizeram”, segundo disse António Costa na gravação feita pelo Expresso à margem da entrevista realizada pelo jornal e publicada no sábado passado.

No comunicado divulgado hoje, a Ordem dos Médicos rejeita esta acusação, garantindo que os médicos nunca se recusaram a tratar dos idosos doentes.

“Queremos salientar que apesar da falta de condições no lar e no pavilhão para onde mais tarde foram transferidos os doentes, tal como constatado na auditoria realizada, os médicos de família nunca se recusaram a colaborar e continuaram a cuidar e tratar dos idosos doentes, estando o seu trabalho devidamente documentado. Apesar das ignóbeis pressões e ameaças, os médicos não abdicaram de continuar o seu trabalho de cuidar dos doentes nem do dever de denúncia perante as graves insuficiências verificadas no terreno”, segundo a OM.

Em relação às críticas feitas pelo primeiro-ministro, a OM considera as mesmas “ofensivas”.

“Declarações ofensivas para todos os médicos e para os doentes que precisam de nós, sobretudo os mais vulneráveis, são um mau serviço dos governantes ao país, e em nada contribuem para a necessária união num momento de pandemia”, segundo o comunicado da Ordem liderada por Miguel Guimarães.

“Estas afirmações, independentemente de serem proferidas de forma pública ou em privado, traduzem um estado de espírito ofensivo para os médicos e um sentimento negativo por uma classe profissional, em sentido totalmente oposto ao que os portugueses expressaram em muitos momentos ao colocar os profissionais de saúde no topo dos que mais contribuíram para o combate à pandemia e que permitiram colocar Portugal como um exemplo”, acrescentou.

Sobre as críticas feitas por António Costa que a Ordem dos Médicos não tem competências para realizar uma auditoria ao sucedido no lar de idosos de Reguengos de Monsaraz, a OM salienta que a necessidade de realizar esta auditoria surgiu depois de “várias queixas, alertas e intervenções por parte da sub-região de Évora da OM, do Conselho Regional do Sul e do Bastonário, sobre a falência do cumprimento das normas emitidas pela DGS na prestação de cuidados de saúde aos idosos do Lar da FMIVPS, que foram ignoradas pelas autoridades competentes”.

A Ordem também  destaca que o seu estatuto “contempla um Conselho Nacional para a Auditoria e Qualidade com competência para realizar auditorias da qualidade no território nacional, como foi o caso da auditoria aos cuidados clínicos prestados aos utentes do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS), em Reguengos de Monsaraz, uma instituição privada”.

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