[weglot_switcher]

Líderes empresariais temem exército de robôs assassinos

As armas autónomas letais conseguem operar sem intervenção humana, distinguindo sozinhas o alvo e disparando. Estas questões éticas levaram a que 116 grandes empresários, como Elon Musk, fundador da SpaceX e da Tesla Motor, Mustafa Suleyman, criador da britânica DeepMind, adquirida pelo Google, ou ainda Esben Østergaard, da Universal Robotics, redigissem uma carta às Nações Unidas.
31 Agosto 2017, 10h17

No laboratório de robótica do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta, o especialista Ronald Arkin investiga formas de prevenir que os cenários catastróficos dos filmes de ficção científica possam um dia tornar-se realidade. “Isso é ficção de Hollywood que serve para entreter as pessoas. Mas também não podemos deixar de observar que algumas coisas que acontecem nos filmes já são baseadas na realidade”, avisou Arkin, que publicou o livro “Governing Lethal Behavior in Autonomous Robots”.

Em 2006, o Departamento de Defesa norte-americano contactou Arkin para criar robôs com consciência artificial que lhes permitisse, por exemplo, evitar disparos sempre que detetam crianças por perto ou respeitar os princípios básicos da Convenção de Genebra no terreno de batalha. “A minha intenção é idealizar máquinas que cometam muito menos erros que os humanos em cenário de guerra”, escreveu.
Algumas destas máquinas já estão em funcionamento e são usadas em cenários de guerra. Equipado com uma pistola automática, o robô “Talon” já funcionou nas ruas de Bagdade: ajudou a desarmar explosivos e a vigiar a base americana no Iraque. Muito versátil, consegue subir degraus e andar em sítios com muitos destroços e cobertos de neve. O seu peso ronda os 50 quilos e tem sensores químicos, de gás, de temperatura e de radiação. Pode ainda ser configurado para encaixar vários tipos de armamento.

Por outro lado, o “Swarmbot” demonstra uma capacidade invejável para entrar em túneis de pequenas dimensões e detetar cargas radioativas. Estas unidades podem funcionar de forma isolada ou, então, em missões mais complicadas, articuladas com mais robôs até formar uma espécie de lagarta. Cada um deles tem sensores de luz, de humidade e de proximidade. Há ainda o “Big Dog”, um quadrúpede de ferro com capacidade para carregar 150 quilos de explosivos e capaz de resistir a tiroteios e explosões até chegar ao alvo pretendido.

É pelas questões éticas que levantam e pelo perigo que as armas autónomas letais representam que foi redigida a carta, assinada por 116 grandes empresários, de mais de 25 países, como Elon Musk (fundador da SpaceX e da Tesla Motor), Mustafa Suleyman (criador da britânica DeepMind, adquirida pelo Google) ou ainda Esben Østergaard, da Universal Robotics.

Os subscritores escreveram: “As armas letais autónomas ameaçam tornar-se a terceira revolução na guerra. Uma vez desenvolvidas, permitirão que os conflitos armados sejam combatidos numa escala maior do que nunca, e em intervalos de tempo mais rápidos do que os seres humanos poderão compreender. Estas podem ser armas de terror, armas que os déspotas e os terroristas utilizam contra populações inocentes e armas pirateadas para se comportarem de maneiras indesejáveis. Não temos muito tempo para agir. Uma vez aberta esta caixa de Pandora, será difícil fechá-la. Portanto, imploramos às Altas Partes Contratantes para que encontrem uma maneira de nos proteger de todos esses perigos”. No início deste ano, o Parlamento Europeu não teve dúvidas. Os robôs são “pessoas eletrónicas” e os eurodeputados aprovaram que se devem adotar regras em matérias de robótica e Inteligência Artificial. A ética, o impacto sobre o emprego, a sustentabilidade do Estado Social e a transformação industrial são temas em cima da mesa e discutidos por empresários como Elon Musk ou o cientista Stephen Hawking.

Garantir a segurança dos humanos é outra das prioridades.

Foi ainda pedida à Comissão que considerasse a criação de um estatuto jurídico específico para que os robôs autónomos mais sofisticados possam ser detentores do estatuto de pessoas eletrónicas responsáveis por sanar quaisquer danos que possam causar. Foi ainda proposta a aplicação da personalidade eletrónica a casos em que os robôs tomam decisões autónomas ou em que interajam com terceiros de forma independente.

Os perigos das armas letais autónomas

De acordo com os especialistas, estes robôs, depois de desenvolvidos, permitirão o conflito armado numa escala nunca antes vista. “Estes robôs podem ser armas de terror usadas pelos déspotas e terroristas contra populações inocentes”, explicam os líderes na carta enviada à ONU. Os cientistas descrevem a tecnologia como “moralmente incorreta” e afirmam que estes robôs têm de ser integrados na lista de armas banidas da Convenção das Nações Unidas sobre Armas Convencionais.

Uma reunião focada nas armas autónomas estava marcada para esta segunda-feira, mas foi alterada para novembro, de acordo com as Nações Unidas. A proibição do desenvolvimento do robô assassino já tinha sido discutida pelos comités das Nações Unidas. Em 2015, mais de mil cientistas, especialistas e investigadores realçaram os perigos das armas autónomas. Este tipo de robô é uma arma autónoma que consegue selecionar e atacar alvos sem intervenção humana.

Os avanços tecnológicos permitirão que estes robôs estejam prontos mais cedo do que se pensa – o navio autónomo da marinha norte-americana SS Sea Hunter e o submarino Echo Voyager, da Boeing, que pode operar durante meses sem intervenção humana, são alguns deles.

As pessoas que estão a favor do robô assassino acreditam que as leis de guerra atuais são suficientes para resolver quaisquer problemas que possam surgir caso seja implementada esta nova tecnologia.

Contudo, quem está contra o uso destes robôs realça que são uma ameaça para a humanidade e que todas as “funções de matar” autónomas devem ser banidas.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.