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Litecoin: “Interesse da NYSE pelas criptomoedas foi o ponto de partida para as instituições começarem a competir”

Os institucionais poderão tirar benefícios da adoção de criptomoedas, segundo Franklyn Richards, presidente da Litecoin Foundation. Em entrevista ao Jornal Económico, à margem da Web Summit, explicou acreditar que a banca não vai morrer, mas adaptar-se ao dinheiro digital.
12 Novembro 2018, 07h20

Já disse várias vezes que tem como objetivo que a disseminação do uso das criptomoedas. Como tem visto a evolução deste setor e qual é a situação atual?

A evolução do uso global de criptomoedas tem sido de cima para baixo, em vez de de baixo para cima, em termos de crescimento. Muitas pessoas que especulam entram e saem, mas onde as criptomoedas têm uma enorme quantidade de benefícios é para as instituições que procuram oferecer melhores serviços aos seus clientes e estamos a ver uma corrida nesse campo.

A Bolsa de Valores de Nova York foi uma empresa pioneira nos mercados, mas também a Fidelity com o lançamento de uma plataforma crypto e com 4,2 biliões em ativos digitais para instituições. Estas são as maiores entre as instituições que estão a entrar em criptomoedas. E percebo por que é que essas empresas querem fazê-lo porque posso ver o benefício que pode trazer aos clientes e, nesta sociedade, tudo o que importa é quem oferece o melhor serviço aos clientes.

Portanto estão todos a correr para entenderem. Vai ser muito rápido para que podem obter benefícios para os clientes. É como quando faço um pagamento a partir de um banco, tenho apenas libras esterlinas e na Europa aceitam apenas euros. Não preciso de saber como funciona, mas quero que seja tratado pelo banco. Existem facilitadores para fazer isso. E as criptomoedas também facilitam esse tipo de coisa, mas muito mais, porque permitem que o dinheiro se mova muito mais rápido. Se quiser pagar a alguém do outro lado do mundo, pode ser resolvido em alguns minutos com muito menos comissões. As instituições vão implementá-lo.

Considera que o interesse da NYSE foi um momento de mudança para o mundo da cripto?

Penso que foi um ponto de partida para as instituições começarem a competir umas com as outras porque ninguém queria fazê-lo primeiro, mas quando alguém mergulhou, houve pânico de ficar para trás. Penso que estamos a começar a ver isso: as grandes empresas acabarão por envolver-se com ativos assim por causa desta corrida.

Como é que a Litecoin Foundation está a contribuir para a globalização das criptomoedas?

A Litecoin está a contribuir com a ativação de pagamentos digitais rápidos e seguros em todo o mundo. Nós concentramo-nos em fazer uma coisa muito bem e não numa série de coisas medianamente. Ao criar uma forma de dinheiro muito bem, mostramos que a litecoin pode realmente ser usada como uma ferramenta global para movimentar valor. Fazemos dezenas de milhares de transações todos os dias e há centenas de milhares de dólares a serem transferidos porque as pessoas estão a perceber que não precisam ir a um banco ou a um serviço para pagar a alguém. Tenho o meu dinheiro em criptomoedas, envio criptomoedas por cêntimos e essa pessoa pode tirá-lo para a sua conta bancária. É muito mais rápido. Podemos ver esse trabalho em serviço porque a transação média no litecoin não é de pequenos pagamentos, muitas vezes é de milhares de dólares. As pessoas estão a movimentar grandes quantias porque presta um serviço muito bom.

Com transações tão grandes, como lidam com a regulamentação contra lavagem de dinheiro?

Nós não estamos a fazer nada. Cabe aos governos decidir como querem lidar e adotar essa tecnologia. Espero que sejam razoáveis ​​sobre isso. Por exemplo, o governo tailiandês tem feito muitos recuos porque vê como uma ameaça em muitos sentidos. Os ataques ao uso do dinheiro digital são astronómicos. Não tem sentido. Estão basicamente a destruir todos os incentivos e casos de uso da tecnologia. Mas obviamente as pessoas estão a usar na Tailândia, simplesmente não o declaram.

É a parte boa do dinheiro sem permissão: temos um espaço, que não suficiente. Pode-se tirar um país da bitcoin, mas não se pode tirar a bitcoin de um país. Ou se trabalha com ela ou se fica para trás, mas não se pode parar porque não há para onde ir. Vêem.se muitas pessoas em muitos estados e os governos que são mais amigáveis ​​e vão ter grandes benefícios nos próximos anos, porque há todo um talento, dinheiro e projetos a tentarem estabelecer novas coisas e produtos na blockchain.

Têm planos para expandir a Litecoin?

Apenas certificarmo-nos de que continua a ser uma boa e sólida forma de dinheiro. Não há muito mais que isso. Eu faço muita promoção pelos casos de uso e defendo que as pessoas adotem a tecnologia, mas na verdade não queremos expandi-la além de ser uma forma fantástica e descentralizada de dinheiro. Se tentarmos construir coisas, poderá levar a desastres. Muitas empresas constroem cadeias laterais, mas a base é muito importante. Se esta for destruída, é como destruir a fundação de uma casa. E nós não podemos forçar a mudança, cabe aos utilizadores e se estes querem usá-la e adotá-la.

Como esperar que as criptomoedas mudem o sistema financeiro?

Antecipo que se torne muito mais invisível para o utilizador, porque essa é a melhor experiência de utilização. Quando as coisas são invisíveis, são perfeitas. No final do dia, nós queremos realmente saber como funcionam? Não, só queremos ir aos nossos telemóveis e fazê-lo. Está a tirar dinheiro de algum lugar e está a funcionar. Os utilizadores irão tirar proveito de todos os benefícios sem saber que estão a usar.

Espera que os bancos tradicionais e instituições financeiras sejam substituídos por dinheiro digital?

Não. Não é uma posição fácil porque as pessoas opõem-se fortemente aos bancos, mas penso que haverá sempre necessidade de as instituições manterem fundos de alguma forma. Na verdade, há pessoas como eu que estão confortáveis ​​em terem o dinheiro em criptomoedas, mas até eu já perdi dinheiro por perder uma password. Se, por exemplo, a minha mãe fizer isso com o seu dinheiro, é tudo perdido porque ninguém pode recuperá-lo para ela.

Acredito que haverá bancos, mas não da mesma forma. Vão adaptar-se e ficarão completamente bem. Será ok. Desde que os bancos sejam regulamentados e possam proteger o cliente, de modo que, se alguém roubar as minhas litecoins de um banco, é garantido. Se eu for hackeado, perco o meu litecoin. Portanto vejo benefícios nesse sentido, mas o bom é que não forçamos as pessoas. Se alguém quiser usar um banco para armazenar criptomoedas é livre de o fazer.

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