“Que idade tem ela, pergunta a juíza principal, incrédula, ao treinador. (…) Não é possível classificar o que acaba de acontecer. Ela atira a gravidade para trás das costas, o seu corpo franzino cria um espaço no ar e enrosca-se nele.”
É assim que começa “A Pequena Comunista Que Nunca Sorria”, de Lola Lafon, uma espécie de biografia romanceada da pequena ginasta romena Nadia Comaneci que, nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, obteve um dez perfeito na exigentíssima disciplina de Ginástica Artística, quando tinha apenas 14 anos.
Tornando-se imediatamente numa estrela a nível planetário, Comaneci encarnava, aos olhos do mundo, o sonho de uma infância eterna, uma pequena boneca de gestos puros, olhar submisso e um corpo com uma elasticidade espantosa.
Dois aspetos fazem suscitar a curiosidade neste livro. Por um lado, o contexto de Guerra Fria que se vivia na altura (e que levou Comaneci a fugir para os Estados Unidos da América, em 1989) e, em particular, o quotidiano numa Bucareste sob a férrea ditadura de Ceaușescu, com agentes e informadores da Securitate – a polícia secreta romena – literalmente a pulular pelas ruas da capital. Pelo outro, o foco posto numa infância sacrificada e uma adolescência comprometida, com um corpo a tornar-se uma prisão, que leva Lafon a uma reflexão sobre a avaliação implacável do corpo feminino.
Este livro, com o qual a autora ganhou vários prémios, teve agora edição portuguesa na Antígona; tem tradução de Luís Leitão.
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