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Livro: A vida extraordinária do português que conquistou a Patagónia

Já ninguém se admira quando ouve dizer que há um português em cada canto do mundo. José Nogueira foi um deles. Sem saber ler nem escrever, trocou as margens do Douro pelo convés de um navio e, depois, pela Patagónia chilena.
16 Agosto 2020, 11h06

 

 

Um viajante luso mais atento e curioso que tenha passado por Punta Arenas, no Chile, não terá deixado de reparar na profusão de referências a um nome de ressonância portuguesa inquestionável.

Terá sido esse o caso da jornalista Mónica Bello (que trabalhou nos jornais “O Independente” e “Diário de Notícias” e nas revistas “Volta ao Mundo” e “Grande Reportagem”) que, em “A Vida Extraordinária do Português que Conquistou a Patagónia”, conta a história de José Nogueira, que sem saber ler nem escrever, trocou as margens do Douro pelo convés de um navio e, depois, por Punta Arenas, tendo sido um dos primeiros colonos de Magallanes, terra que viria a acolher muitos imigrantes, oriundos sobretudo da Escócia.

De facto, o que espantava era que a história deste homem, que chegou a possuir uma das maiores fortunas da região, não tivesse ainda cativado um escritor ou escritora portugueses. Nascido em 1845, no seio de uma família de escassos recursos, embarcou como grumete com 12 anos, tendo viajado por diversas cidades até que, em 1866, desembarcou em Punta Arenas, então uma aldeia com poucos habitantes.

Para além de armador de sucesso, dedicou-se à mineração de ouro, à criação de gado ovino, chegando a explorar uma concessão de um milhão de hectares de terreno (área sensivelmente igual a um terço do Alentejo) – aos quais se juntariam ainda os 300 mil do seu cunhado, formando, assim, com a sua mulher, Sara Braun, a maior ganadaria da Patagónia (Sociedad Explotadora de Tierra del Fuego) – e à caça em grande escala de lobos-marinhos e comércio das peles.

A russa Sara Braun, filha do seu sócio e amigo Elias Braun, com quem casou em 1886, viria a suceder-lhe à frente dos negócios aquando da sua morte, por tuberculose, em 1893, tornando-se então na única mulher empresária de Punta Arenas. Morreria em 1955, com 92 anos, e um longo historial de beneficência.

A mansão que José Nogueira encomendara ao arquitecto francês Numa Mayer, e que foi terminada por Sara, em 1905, é hoje o luxuoso Hotel José Nogueira – e património nacional desde 1974 –, situado no centro histórico da cidade sul-americana, perto da rua que tem o nome do português (e cujo bar se chama Shakleton, outro nome de proporções míticas na zona).

Já o Palácio Braun Menéndez, construído mais tarde, e doado pela família ao Estado chileno, alberga hoje o Museu Regional de Magalhães, onde se pode conhecer a história da cidade e das famílias mais ricas da região e, portanto, a deste português empreendedor que construiu um império comercial e industrial junto ao estreito de Magalhães, onde se unem o Atlântico e o Pacífico, e a que se chama, ainda hoje, “o fim do mundo”. A edição é da Temas e Debates.

Uma sugestão de leitura da livraria Palavra de Viajante.

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