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Livro: “Carta a um Refém”

Se para o Principezinho o essencial é invisível aos olhos, nesta “Carta a um Refém” o essencial está amiúde distante, como os amigos e a terra natal. Uma homenagem acutilante e comovente pela pena de Saint-Exupéry.
27 Fevereiro 2021, 10h16

 

“Quando, em dezembro de 1940, atravessei Portugal de passagem para os Estados Unidos, Lisboa surgiu-me como uma espécie de paraíso luminoso e triste. Falava-se então muito de uma invasão iminente, e Portugal apegava-se à ilusão da sua felicidade. Lisboa, que organizara a mais encantadora exposição que já se vira no mundo, sorria com um sorriso um tanto pálido, semelhante ao daquelas mães que, não tendo notícias de um filho que está na guerra, se esforçam por um salvar através da sua confiança (…). O continente inteiro pesava sobre Portugal como uma montanha selvagem cheia de tribos predatórias; Lisboa em festa desafiava a Europa: ‘Como poderão tomar-me por alvo quando tenho tanto cuidado em não me esconder! Quando sou tão vulnerável!…’”.

Esta “encantadora exposição” que Saint-Exupéry refere em “Carta a um Refém”, editado pela Relógio d’Água, era, naturalmente, a Exposição do Mundo Português, em Lisboa, manobra de propaganda interna e externa do Estado Novo, que deixou uns arranjos florais em forma de brasões, agora tão falados a propósito de uma renovação do jardim e da Praça do Império, em Belém.

Antoine de Saint-Exupéry nasceu a 29 de junho de 1900 na cidade francesa de Lyon. Foi aviador, jornalista e autor de obras como “Voo Nocturno” (1931), “Terra dos Homens” (1939) e o conto “O Principezinho” (1943), um dos livros mais traduzidos em todo o mundo.

A aviação e a guerra viriam a revelar-se elementos centrais de toda a sua obra literária, que resulta da sua experiência de vida, quer como piloto da companhia Aéropostale, transportando correio para o Senegal e, mais tarde, para a América do Sul e Marrocos, onde conheceu a solidão do deserto, quer já durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi mobilizado para a Força Aérea, para voos numa esquadrilha de reconhecimento aéreo.

Após a invasão de França pelos nazis, parte para Nova Iorque, tentando unir os franceses e convencer os norte-americanos a entrar na guerra. É precisamente nesta fase da sua vida que escreve “O Principezinho”, que ilustra com aguarelas suas. Regressa à Força Aérea em 1943, primeiro na Tunísia e, no ano seguinte, na Córsega, de onde parte para uma missão de reconhecimento, com vista à preparação do desembarque dos Aliados na Provença. Será a sua última missão; o avião deixa de emitir qualquer sinal para o radar apenas cinco minutos depois de descolar. O aparelho só será encontrado em 2000, ao largo de Marselha.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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