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Livro: “Depois da estrada”

Da Serra do Larouco, Montalegre, à praia da Coelha, em Albufeira, são 1.171 quilómetros e cinco dias de carro. De sol a sol. É este o itinerário de Duarte Belo , que aqui faz um retrato de um Portugal pouco povoado.
7 Novembro 2020, 10h07

 

De forma imprevista, a situação gerada pela Covid-19 tem sido benéfica para a relação dos portugueses com Portugal, pois tem potenciado que se “vá para fora cá dentro”, lema de uma antiga campanha do Turismo de Portugal. De repente, descobrimos quão fabuloso é o tal “e o resto é paisagem”, como alguns resumiam o país “que interessava” à cidade de Lisboa.

“Depois da estrada” é o relato de uma viagem entre a Serra do Larouco e os arenitos recortados da praia da Coelha, não longe de Albufeira, no Algarve, da autoria de Duarte Belo (texto, fotografias e desenhos). O livro é publicado pela Editora Museu da Paisagem, dedicada aos temas da paisagem, território e espaço português, sendo o Museu da Paisagem um museu com sede digital sobre a paisagem.

O itinerário foi feito de carro com meios reduzidos ao mínimo essencial, durante cinco dias contínuos, de sol a sol, sem qualquer desvio para abastecimento alimentar. As noites foram passadas no campo, junto à estrada. O objetivo era percorrer paisagens que estão longe de tudo, longe das cidades, do mar, dos eixos de desenvolvimento urbano do país, de monumentos ou de lugares turísticos, de Espanha. No fundo, percorrer um Portugal pouco povoado e ir compondo um retrato dessa realidade.

O ponto de partida foi o alto da Serra do Larouco, Montalegre. Daí, foi traçado um itinerário em direção ao Sul, sensivelmente equidistante entre a linha de costa atlântica, a poente, e a fronteira com Espanha, a nascente, evitando passar por cidades, vilas ou pontos de interesse patrimonial e turístico. Ao fim de cinco dias e 1.171 quilómetros, percorridos em automóvel, o autor chegou à praia da Coelha, em Albufeira. Pelo caminho, um país marcado pela desertificação humana progressiva, por incêndios cíclicos, pela pobreza. Mas com subtilezas que se escondem nas paisagens e reflexões que são suscitadas pelo horizonte que fica para além da estrada.

Este livro segue-se a “Caminhar Oblíquo”, dos mesmos autor e editora, de março de 2020, dessa feita resultado de um itinerário pedestre de 530 quilómetros realizado entre o Penedo Durão, perto de Freixo de Espada à Cinta e o Cabo da Roca, e em que o objetivo fora o de atravessar a longa diagonal montanhosa do centro de Portugal que divide o Portugal Atlântico, a norte, daquele outro meio país, a sul, sob influência climática da bacia do Mediterrâneo. O terceiro volume virá, talvez, ainda esta ano.

Duarte Belo nasceu em Lisboa, em 1968 e formou-se em Arquitetura. Desde 1986 que trabalha no levantamento fotográfico sistemático da paisagem, formas de povoamento e arquiteturas em Portugal. Expõe desde 1987, publicou vários livros sobre o tempo e a forma do território português para além de lecionar áreas relacionadas com a fotografia e a arquitetura, e é editor do blogue Cidade Infinita.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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