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Livro: “Ensaios Escolhidos”

Eis o livro perfeito para mergulhar no pensamento de um dos jornalistas mais interessantes do século passado: George Orwell.
17 Abril 2021, 09h30

 

“Os burros marroquinos são pouco maiores do que um S. Bernardo mas transportam cargas que o exército britânico consideraria excessivas para uma mula, e muitas vezes não lhes tiram as albardas durante semanas a fio.”

“(…) a dieta típica britânica é uma dieta simples, relativamente pesada e talvez ligeiramente bárbara, que extrai muita da sua excelência dos produtos locais, e assenta sobremaneira no açúcar e nas gorduras animais. É a dieta de um país do norte, húmido, onde a manteiga abunda e os óleos vegetais escasseiam, onde as bebidas quentes são bem-vindas a qualquer hora do dia, e onde todas as especiarias e as ervas de sabor mais intenso são produtos exóticos.”

Estes dois excertos de “Ensaios Escolhidos”, retirados respetivamente de “Marraquexe” e “Culinária Britânica”, dão uma ideia da variedade de assuntos que podemos encontrar nesta compilação, editada pela Relógio d’Água.

Agora que a obra de George Orwell já caiu no domínio público – de acordo com as leis da União Europeia, setenta anos após a morte de um autor, a sua obra deixa de estar sujeita ao pagamento de direitos –, sendo múltiplas as edições dos seus textos, nomeadamente dos mais conhecidos, como “1984” e “A Quinta dos Animais” (também conhecido por cá como “O Triunfo dos Porcos”, temos uma oportunidade excelente para (re)ler um homem que lutou de forma feroz – quer com armas quer com a escrita – contra todos os tipos de totalitarismo, defendendo sempre o socialismo democrático.

Na Catalunha, durante a Guerra Civil Espanhola, ou em Londres e Paris, no meio dos indigentes, Eric Arthur Blair, seu verdadeiro nome, foi o maior denunciante de regimes totalitários da sua geração e, enquanto jornalista, esteve sempre do lado dos mais fracos e injustiçados. Se, em 1984, a verosimilhança da obra homónima não era clara, hoje, é por demais óbvia e, infelizmente, nem todas as suas dimensões são encaradas com a devida preocupação, inerente à obra e ao adjetivo que se lhe colou: orwelliano.

Regressando aos seus “Ensaios”, onde tanto podemos encontrar textos sobre livros e escritores, como reflexões sobre política – ainda que não o pareçam à primeira vista como, por exemplo, “Matar um Elefante”, uma extraordinária crítica ao colonialismo e imperialismo (britânico, neste caso) –, o leitor tem aqui o livro perfeito para mergulhar no pensamento de um dos jornalistas mais interessantes do século passado e cuja vida foi, lamentavelmente, demasiado breve. Nascido em 1903, Orwell morreria em 1950, com apenas 47 anos.

Esta é a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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