Os anglo-saxónicos têm um género literário para o qual ainda não encontrámos uma boa tradução em português: “nature writing”, em que se dedicam a celebrar e meditar sobre ao ambiente não-humano e a nossa relação com ele. Para encontrar os seus primórdios teremos de recuar ao século XVIII; mais tarde, aos irmãos William and Dorothy Wordsworth (dela, está publicado em Portugal, o delicioso “Diário de uma Viagem a Portugal e ao Sul de Espanha”), a Henry David Thoreau, autor de “Walden”, ou, mais recentemente, Peter Matthiessen, Robert Macfarlane, Nan Shepherd ou Annie Dillard.
Sobre a autora norte-americana, o escritor inglês Geoff Dyer disse que Annie Dillard abre os nossos olhos para o mundo e para novas formas de tornarmos compreensível o que vemos.
“Ensinar Uma Pedra a Falar. Expedições e Encontros”, editado originalmente em 1982, reúne catorze ensaios autobiográficos, entrecruzados com crítica ensaística, que levam os leitores a locais remotos do planeta.
Estas buscas filosóficas das relações que o sujeito estabelece com o mundo natural têm rumos tão diversos como o gelo do Árctico (“Uma expedição ao Pólo”), a vida à beira-rio nos confins da selva equatoriana, entre tartarugas e leões-marinhos nas ilhas Galápagos (“Vida nas rochas”) e eclipses solares. Oscilando entre a inefável grandiosidade do intocado, a resignação pelo destino de um veado capturado (“O veado em Providencia”) e o milagre da troca de olhares com uma doninha no campo (“Viver como doninhas”), Annie Dillard capta habilmente momentos tão fugazes como clarividentes, revelando-os em todo o seu assombro.
Habitadas por Emerson, Thoreau e Dickinson, destas páginas irrompem divagações filosóficas sobre o inexorável movimento do tempo, reflexões sobre a admiração que a natureza nos inspira e que a civilização teima em apagar, formulando uma filosofia do olhar e da liberdade.
Annie Dillard nasceu em 1945, em Pittsburgh, na Pensilvânia. Romancista, poeta e ensaísta, recebeu o Pulitzer de Não-Ficção com o livro “Pilgrim at Tinker Creek” (1974), para além de numerosos outros prémios, bolsas e reconhecimentos diversos ao longo da sua carreira.
Esta edição da Antígona, com tradução de Inês Dias e prefácio de Diana V. Almeida, é a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
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