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Livro: “Kaputt”

Durante a Segunda Guerra Mundial, Curzio Malaparte ruma à Frente Leste como correspondente de guerra do “Corriere della Sera”, cuja experiência usa como mote para os seus livros mais célebres, entre os quais “Kaputt”.
13 Março 2021, 10h33

 

Livro cruel e alegre no dizer do próprio autor, mas acima de tudo surpreendente e fascinante, capaz de dividir o leitor perante a beleza da sua escrita – hiper-realista e fantástica, excessiva e barroca – e o espetáculo hilariante e grotesco das cenas terríveis que descreve, este livro é um relato impiedoso e lírico da Europa em pleno teatro bélico da Segunda Guerra Mundial, a descrição de um inteiro continente em chamas e arremessado para o abismo da desintegração política e moral, vivenciado diretamente pelo autor – escritor, intelectual, diplomata e herói de guerra –, Curzio Malaparte, que foi capitão das tropas alpinas e correspondente do jornal “Corriere della Sera”, com a missão de reportar os cenários que encontra nas várias frentes de guerra, da Polónia à Finlândia.

É desta tentativa impossível de simplesmente relatar o que vê e o que ouve, da convivência íntima com o lado inimigo, da desenvoltura e à-vontade com que se relaciona com altas patentes alemãs, priva com príncipes, ministros do III Reich e embaixadores, frequenta os salões nobres e experiencia o sofrimento de soldados e mujiques, que nasce “Kaputt” e a sua suite picaresca de histórias que se vão desfiando, uma a uma, para deleite e horror das elites europeias e gerações de leitores.

Iniciado em plena frente russa, durante o verão de 1941, e terminado em Itália, em 1943, já após a queda de Mussolini, “Kaputt” teve grande sucesso internacional, consagrando Malaparte como um dos maiores escritores do século XX.

O italiano Curzio Malaparte, pseudónimo de Kurt Erich Suckert, nasceu em Prato, perto de Florença, em 1898. Em 1914, com apenas dezasseis anos e antes de a Itália entrar na Primeira Guerra Mundial, alista-se como voluntário no exército francês.

Em 1926, antes de se tornar editor do “La Stampa”, cofundou “900”, uma revista influente e cosmopolita, que contava com a colaboração de nomes como James Joyce e Ilya Ehrenburg. Tal como Gabriele D’Annunzio, tornou-se um dos mais poderosos escritores associados ao partido fascista, de que se tornara um precoce apoiante. Acabaria por repudiar o fascismo (depois da Segunda Guerra Mundial, aproxima-se da esquerda) e, em 1931, a publicação do seu livro “Técnica do Golpe de Estado” resultaria numa pena de prisão de cinco anos, cumprida na ilha de Lipari.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ruma à Frente Leste como correspondente de guerra do “Corriere della Sera”, cuja experiência usa como mote para os seus livros mais célebres, este “Kaputt”, editado em Portugal pela Cavalo de Ferro, e “A Pele”. Escreveu também textos para teatro e cinema, tendo morrido em Roma, em 1957.

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