“Almoçamos no Minha Humilde Casa, um restaurante nada humilde, em Chengdu, num parque rodeado de canaviais de bambu e de vias fluviais. O estilo é chinês moderno, topo de gama, cadeiras com espaldares de cátedra, cama de dossel de seda onde se pode repousar, lâmpadas de halogéneo e mesas salpicadas de pétalas de rosa de seda. A comida é chinês-fusão e incorpora a influência, não da comida ocidental, mas dos muitos ramos das cozinhas da China e do Sueste Asiático: por exemplo, a tradicional sopa cantonesa de barbatana de tubarão é aqui feita com adição de um puré de abóbora.”
“Lugares Distantes”, do norte-americano Andrew Solomon, é a mais recente adição à coleção de literatura de viagens da Quetzal, intitulada “Terra Incognita”. Apresenta-se como um livro que visita o nosso mundo para mostrar como ele se transforma e pode ser sempre tão perturbador como acolhedor; o subtítulo, “Como a viagem pode mudar o mundo”, refere-se possivelmente ao mundo interior do viajante que a realiza e não propriamente ao das restantes pessoas, leitores incluídos.
Não poderíamos estar mais de acordo com o autor quando afirma que um viajante “pode dialogar sobre as suas diferenças, deixando de parte a suposição de que o seu modo de vida é preferível ao delas”. Aliás, viajar é a melhor forma de nos expor perante a diferença, aceitar outras verdades e formas de vida, suscitar uma reflexão profunda sobre os nossos preconceitos e, se tudo correr bem, acabar com eles.
Este livro recolhe alguns textos sobre geografias em mudança, sejam mudanças políticas, culturais ou espirituais (por exemplo, a Líbia, onde Solomon viajou em 2006, ainda no tempo de Kadhafi). Das barricadas de Moscovo, em 1991, passando pela obsessão com o corpo no Brasil, o silêncio da Mongólia ou os sinais de transformação na China, o autor apresenta-nos uma visão única sobre a forma como a História desses lugares se está a alterar e a mudar a vida das pessoas.
Destas viagens, da Rússia à China, da Turquia ao Camboja, da Mongólia à Gronelândia, às Ilhas Salomão à Líbia e à Austrália, resultaram em textos publicados em jornais e revistas (como “The New Yorker” ou “Travel & Leisure”) e livros da sua autoria (“O Demónio da Depressão”, igualmente publicado pela Queztal).
Quando a literatura de viagens conhece um incremento de interesse por parte dos leitores, seria importante – e interessante – alargar o leque de autores, rompendo com a hegemonia anglo-saxónica, cuja mundivisão já é profusamente conhecida e não traz muito de inovador, e de género; há muitas mulheres a relatar as suas viagens, dando maior amplitude ao nosso conhecimento do mundo e ao assombro que não deixa de nos causar.
Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com