“Cerca de oito dias antes da partida para a guerra, um navio francês tinha chegado a oito milhas dali, a um porto que os portugueses chamam Rio de Janeiro e na língua dos selvagens ‘Iteronne’ (Niterói). Ali costumam os franceses carregar pau brasil. Chegaram também à aldeia, onde eu estava com o seu bote, e trocaram com os selvagens pimenta, macacos e papagaios”.
Hans Staden (c. 1525 – 1579) foi um mercenário alemão que, por duas vezes, participou em lutas contra os franceses, a última das quais na Capitania de São Vicente (que, em 1709, se uniu à Capitania de Santo Amaro, adotando o nome de São Paulo – se hoje é a mais populosa e cosmopolita do Brasil, até ao início do século XVIII, São Paulo era uma vila pobre e isolada).
Na sua segunda viagem ao Brasil, Staden serviu a coroa portuguesa como responsável pela defesa do Forte de São Filipe da Bertioga, na ponta da Baleia, no extremo nordeste da ilha de Santo Amaro, ao largo de São Paulo. Os Tupinambás, combatendo os Tupiniquins, aliados dos portugueses, capturam Staden e, convencidos que se trata de um português, levam-no para Ubatuba, onde permaneceu cativo durante nove angustiantes meses, sempre à espera do dia em que seria devorado.
Viria a ser resgatado por um capitão francês, dirige-se a França e regressa ao seu país. Convencido da importância de partilhar a sua terrível experiência, relata-a neste livro “Nus, Ferozes e Antropófagos” (sendo o título original “Descrição verdadeira de um país de selvagens nus, ferozes e canibais, situado no Novo Mundo chamado América”), publicado originalmente em 1557, e editado em Portugal pela Feitoria dos Livros, uma chancela da Colares Editora, com tradução de Alberto Löfgren.
Escritas com simplicidade, as memórias deste arcabuzeiro alemão estão repletas de viagens ultramarinas, naufrágios, selvagens, lutas e canibalismo, permitindo ao leitor imaginar o Brasil do século XVI, através do olhar dos primeiros europeus que aqui estiveram. É um relato cheio de peripécias nessa terra ainda desconhecida, cenário de aventuras verídicas e extraordinárias.
A Feitoria dos Livros inclui na sua edição as belíssimas xilogravuras originais de Hans Staten, que ilustram – quase como uma banda desenhada, algo inovador para a época – os episódios por si vividos, aumentando assim a importância antropológica desta obra original.
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