“Estava como que enfeitiçado ante a grandiosidade e majestade daquele cenário, enquanto o barco se aproximava pouco a pouco do porto de Gálata.
É impossível ver uma cena mais esplendorosa e mais bela do que a das altas almádenas brancas erguendo-se, quais velas debaixo do céu de Istambul, ao nascer do sol.
A esta hora, Istambul tem um céu que lhe é exclusivo e que não se vê em mais lado nenhum. Com cores que um poeta ou um pintor não conseguiria compor…”
Em 1933, o tunisino de origem turca Ali Duaji (1909-1949) fez uma viagem em cruzeiro pelo mar Mediterrâneo, partindo de Tunes e aportando em algumas cidades francesas, italianas e gregas antes de chegar a Istambul e Esmirna (desta última, apenas guarda na memória uns deliciosos kebabs).
Inspirado nessa viagem, escreve o texto que dá o título a este livro, que é apresentado como uma novela revolucionária que representa a renovação da literatura árabe do começo do século XX e que deverá constituir-se como uma surpresa para o leitor europeu, pois antecipa, ainda que dentro de uma realidade cultural diferente, a “beat generation” americana, encarnada sobretudo por Jack Kerouac, Charles Bukowski e o poeta e editor Lawrence Ferlinghetti (que a 24 de março completou 101 anos).
Apesar de nunca ter ido além do ensino primário, Ali Duaji foi romancista, novelista, dramaturgo e poeta. Optando por se auto-educar, acabou por se tornar um profundo conhecedor da literatura, história e cultura árabe medieval e moderna e da literatura francesa.
Com o afrouxar da censura pelo governo colonial, fundou o jornal “as-Sūrur”, afamado pelos seus artigos e caricaturas satíricas – que, aliás, dão também o tom a “Périplo pelos Bares do Mediterrâneo” – e que durou poucas semanas, provavelmente devido ao seu temperamento algo indisciplinado e refratário. Mestre de uma ironia fabulosa, foi uma das figuras emblemáticas de um grupo de intelectuais e artistas tunisinos que fazia as suas tertúlias nos cafés da velha medina de Tunes.
Mais interessado em compreender o que há de comum e de diferente entre os povos mediterrânicos, Duaji escreve sobre os seus encontros com os habitantes locais, em vez de descrever museus e monumentos, montanhas, ruas ou praças.
Sobre o título, justificou-o alegando que “foi para estabelecer a verdade relativamente ao que fizemos durante o nosso périplo pelos portos deste esplêndido mar, dos quais nada vimos a não ser os bares e os cafés”. Mas nem só de copos vive este livro, editado pela E-Primatur, e cuja tradução foi feita por Hugo Maia a partir do original árabe.
Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
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