A edição em português de um livro da alemã Esther Kinsky (Engelskirchen, 1956) é um acontecimento editorial que deve ser devidamente assinalado. Desta vez, sai pelas mãos da Elsinore, com tradução de Paulo Rêgo. A sua escrita é tão atraente, magnética e cheia de texturas, quão difícil de classificar.
Em maio e em setembro de 1976, dois terramotos abalaram o nordeste de Itália. Cerca de mil pessoas perderam a vida sob os escombros e dezenas de milhar ficaram sem teto. Como consequência, muitos abandonaram Friuli para sempre.
Se os deslocamentos de terra que resultaram da tremenda força da catástrofe são visíveis e fazem agora parte da história natural do local, é muito mais complicado ter a perceção de quais os efeitos nos habitantes, que trauma deixaram estes dois acontecimentos que despedaçaram a vida de tanta gente. Ao terem de colocar em palavras, de nomear, as suas recordações, as lembranças como que ganham corpo, espessura. É precisamente este o objetivo de Kinsky.
Em “Rombo” encontramos as vozes de sete habitantes de uma remota aldeia, na zona montanhosa de fronteira entre Itália e a Eslovénia, que falam das suas vidas e do impacto que nelas tiveram esses dois terramotos, o segundo tão próximo do primeiro, quando ainda se estavam a tentar recompor; a vivência do medo e da perda ainda tão recentes. São memórias fragmentadas que compõem um mosaico, intercaladas com descrições da paisagem, da fauna e da flora, numa linguagem plena de poesia.
Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
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