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Livro: “Sair da Estrada – Um jornalista em reportagem”

A lupa de Paulo Dentinho, o jornalista que se fez repórter no ir em busca da notícia, dê por onde der, seja onde for. Entre Angola, Líbano e Turquia, passando pela Síria, 13 reportagens para ‘engolir’ de um trago.
12 Junho 2021, 10h35

 

“Nesta pequena povoação há muitos símbolos da fé cristã e, entre eles, apenas o rosto de Bashar [al-Assad, presidente da Síria] destoa. Mas para a grande maioria dos habitantes de Maalula, o senhor de Damasco é aquele que melhor os protege do fanatismo islâmico. Entre os poucos que se aventuraram a falar connosco, aqueles que o fazem é para afirmar a sua lealdade ao presidente e expressar os seus receios quanto à agenda rebelde, ‘eles não são sírios, vêm todos dos países em volta’”.

“Sair da Estrada – Um jornalista em reportagem”, agora editado pela Caminho, reúne um conjunto de reportagens escritas por Paulo Dentinho, de Angola, em 1987, durante a guerra civil, passando pelo Líbano, em 2007, ou a Turquia em 2004, até à guerra na Síria, em dois momentos, 2012 e 2016.

O prefácio é assinado por Teresa de Sousa, jornalista do “Público”, que considera serem estas “13 histórias que se leem de um fôlego”, reforçando a ideia de que o jornalismo tem um papel fundamental na preservação da memória. Talvez, desta forma, se possa contribuir para que a História não se repita, para que se aprenda com os erros e os horrores do passado recente.

Paulo Dentinho é uma das caras do jornalismo televisivo que mais associamos à cobertura de conflitos armados. Enviado especial, repórter de guerra, correspondente em Maputo, Díli e Paris, Dentinho entrevistou personalidades de relevo internacional, como Ytzhak Rabin, Muammar Kadhafi, Jens Stoltenberg, Abdul Fatah al-Sisi, Emmanuel Macron, Recep Tayyip Erdogan, Bashar al-Assad, Lula da Silva e vários outros. A seriedade do seu trabalho pode ser atestada pelos testemunhos dos seus pares, nomes igualmente respeitado do e no meio, como José Manuel Barata-Feyo ou Mário Zambujal.

Foi diretor de informação na RTP até que saiu, em 2018, devido a um ‘post’ no Facebook, que suscitou grande polémica e, como é costume nestes casos, deu azo a um debate sobre os limites da liberdade de expressão. Também como é costume recentemente, a polémica durou pouco, desapareceu sem deixar saudades, tendo sido rapidamente substituída por outra, com igual duração.

Mas foi sobretudo na reportagem onde se construiu jornalista, nesse ir em busca da notícia, dê por onde der, seja onde for. Passou, por isso, pelas ruelas sujas de tantos locais insalubres, teve acesso a palácios reais e presidenciais, cruzou-se com histórias simples de gente simples e com as dos sonhadores de todo o tipo. Viu dor, morte, revolta e resignação. E contou sempre o que viu.

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