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Livro: “Um Aprazível Suicídio em Grupo”

Não é por ser verão que precisamos de leituras divertidas, mas quiçá o calor puxe pelo sorriso. E seguramente que vai rasgar uns quantos ao ler as reflexões que aqui se tecem sobre o suicídio enquanto desporto finlandês.
17 Julho 2021, 10h57

 

Estamos a precisar de livros que nos divirtam. É o caso de “Um Aprazível Suicídio em Grupo”, do finlandês Arto Paasilinna, editado em português pela Relógio d’Água.

É precisamente no S. João, festa de luz e alegria realizada em pleno Verão, que um pequeno empresário em crise, Onni Rellonen, decide acabar com a vida. Mas quando, de pistola no bolso, se aproxima de um celeiro isolado, local ideal para uma morte tranquila, depara com uma estranha cena. E, no último momento, consegue salvar um outro candidato ao suicídio já com um nó corrediço apertando em volta do pescoço. É o coronel Kemppainen, um inconsolável viúvo que escolhera igualmente aquele luminoso solstício para pôr fim à vida.

Influenciados por este acaso, renunciam à sua intenção comum e conversam sobre as razões que os levaram a tomar tão sombria decisão. Já em casa de Onni, preparam uma sauna, bebem, pescam e tratam-se por tu.

Depressa chegam à conclusão que, na Finlândia, existe um grande número de candidatos ao suicídio. E daí até à ideia de fundarem uma associação de “candidatos ao suicídio” vai um passo. Decidem então colocar um anúncio:

“Está a pensar suicidar-se?

Não entre em pânico, não está sozinho.

Também nós temos pensamentos semelhantes, e até alguma experiência. (…)

Respostas à Posta Restante dos Correios Centrais de Helsínquia, para: ‘Tentar em conjunto.’”

Um dia, acompanhados de três dezenas de companheiros, partem num confortável autocarro para uma aprazível viagem de suicídio colectivo, atravessando a Europa em busca do melhor precipício para se lançarem no vazio. Entre os candidatos, encontram-se alguns com bastante humor, outros mais sombrios, mas todos eles participando nas ferozes reflexões do autor sobre o suicídio enquanto desporto finlandês.

Depois de diversas peripécias, incluindo deixarem alguns pelo caminho – cheios de energia e vontade de viver –, acabam por encontrar o local ideal em Portugal, uma falésia junto à Fortaleza de Sagres.

Arto Paasilinna (1942-2018) foi um ex-lenhador convertido ao jornalismo e à literatura. Autor de mais de três dezenas de obras, tornou-se famoso por “A Lebre de Vatanen” (duas vezes adaptado ao cinema). Os seus livros provam cabalmente o que afirmou uma vez numa entrevista: “os humanos em geral são um pouco loucos, de uma maneira tocante, e os finlandeses ainda mais, talvez, do que outros”.

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