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Livro: “Veneza”

Este não é um guia nem um livro de história; é um maravilhoso mergulho na vida e no caráter de uma cidade, tendo como pano de fundo o seu prodigioso passado. Veneza ‘by’ Jan Morris.
28 Novembro 2020, 10h11

 

Na passada sexta-feira, dia 20, o mundo da literatura de viagens ficou mais pobre: Jan Morris, uma das melhores escritoras do género, faleceu aos 94 anos, num hospital perto da aldeia de Llanystumdwy, no País de Gales, onde vivia.

Morris abraçou a carreira militar em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial, tendo servido como agente dos serviços secretos na Palestina. Daí, enveredou pela carreira de jornalista, qualidade na qual empreendeu a ascensão do Evereste, em 1953, fazendo o relato para o “Times”. Viria a dar ao mundo a notícia, em exclusivo, da conquista da montanha por Edmund Hillary e Tenzing Norgay, numa mensagem codificada que foi publicada no dia da Coroação de Isabel II, o que lhe granjeou enorme fama.

Já para o “Guardian”, denunciaria a intervenção francesa no conflito do Suez, em que os gauleses deram uma mão aos israelitas, bombardeando com napalm os tanques e camiões egípcios. Em 1972, James Morris concluía uma mudança de sexo submetendo-se a uma operação em Casablanca, mantendo, contudo, a relação com a sua mulher, Elizabeth, com quem tivera cinco filhos.

De entre as várias hipóteses de narrativas de viagem da autoria de Jan Morris, destacamos “Veneza” por ser, muito provavelmente, o seu mais importante livro sobre um lugar. É, seguramente, um dos melhores livros já escritos sobre a cidade italiana. Publicada originalmente em 1960, foi esta obra que lhe permitiu passar a dedicar-se à escrita a tempo inteiro.

“Veneza” não é um guia nem um livro de história; é um maravilhoso mergulho na vida e no caráter de uma cidade, tendo como pano de fundo o seu prodigioso passado. Analisando o temperamento dos venezianos, os canais, a arquitetura, as pontes, os turistas, as curiosidades, cheiros, sons e cores, não há praticamente nenhum detalhe que escape a Jan Morris, para verdadeiro deleite do leitor.

Ao longo de mais de cinco décadas, Jan Morris assinou livros memoráveis – tanto de viagem como de reportagem –, na sua escrita cuidada e entusiasta, repleta dos pequenos pormenores que dão vida a um local e permitem transportar o leitor para o centro do lugar descrito, das conversas narradas, das impressões e sentimentos vividos.

Para além deste, editado em português pela Tinta da China, há ainda, entre outros, “Coast to Coast”, relato de uma viagem nos Estados Unidos realizada em 1956, “Sydney”, “Hong Kong”, “Espanha”, uma história do Império Britânico em três volumes ou “Conundrum”, um livro de memórias onde descreve a sua viagem de homem para mulher.

Mais do que de viagens, Jan Morris considerava que os seus livros eram sobre lugares; mais do que movimento, versavam sobre lugares, pessoas e história.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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