[weglot_switcher]

Livro: “Viajantes nos Açores. O Olhar Estrangeiro sobre as Ilhas desde o século XVI”

Da exaltação da natureza ao comentário sobre realidade política e social, são muitos os olhares reunidos neste livro sobre o arquipélago, de Charles Darwin a Herman Melville passando por Mark Twain, Júlio Verne e Winston Churchill.
27 Março 2021, 10h00

 

Em 1575, o cosmógrafo real francês André Thevet descrevia assim as ilhas açorianas: “Estas ilhas a que se chama Essores situam-se a quarenta graus de latitude e cento e quinze de longitude: asseguro-vos de que, ao costeá-las, há tais perigos e tão ferozes que os mais intrépidos perdem o ânimo e a firmeza, dado que, a dois graus daqui e dali das ditas ilhas, sopra geralmente um vento tão frio, tão formidável e terrível, que os marinheiros receiam muito aproximar-se, dado que é a passagem mais perigosa que se encontra em toda a viagem e aí se sentem as correntes do golfo de Lucatã.”

Já em 1902, o Príncipe Alberto I do Mónaco revelava uma enorme admiração pelos baleeiros das ilhas, “pescadores da costa, ou agricultores de espírito aventureiro, muitas vezes emigrantes que regressam ao país de origem com a alma fortificada pelas tempestades de outros mares”, e um certo fascínio pela pesca do cachalote – “A morte dos cachalotes é majestosa como uma derrocada e, na necrópole que os baleeiros lhe constroem à beira de uma enseada, acumulam-se os seus restos como as ruínas de um templo.”

“Viajantes nos Açores. O Olhar Estrangeiro sobre as Ilhas desde o século XVI” está organizado por capítulos, a que correspondem temas específicos – por exemplo, “Vulcões & Rochas”, “Guerras & Corsários”, “Terra Farta, Águas Numerosas” ou “Baleias & Emigração” – incluindo-se em cada um destes capítulos as diversas descrições encontradas em relatos de viagem, correspondência ou textos de ficção de mais de três dezenas de viajantes, entre as quais se encontram nomes tão diversos como Sir Walter Raleigh, Roxana Dabney, Charles Darwin, o Capitão James Cook, Chateaubriand, Herman Melville, Mark Twain, o Príncipe do Mónaco Alberto I, Júlio Verne, Winston Churchill, Antonio Tabucchi ou Franklin Delano Roosevelt.

Apesar de toda esta diversidade de olhares, sobressai no livro um aspeto comum: a exaltação da exuberância da natureza encontra frequentemente o comentário oposto quando o viajante refere a realidade política e social – a extraordinária beleza ambiental do arquipélago contrasta fortemente com a pobreza e as condições de vida dos seus habitantes.

O livro, em edição bilingue português e inglês (e ainda com os excertos na língua original, francês ou espanhol), tem a autoria de Maria das Mercês Pacheco. Nascida em Ponta Delgada, viveu e trabalhou alguns anos em Lisboa, antes de regressar aos Açores.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.