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Lula da Silva: “Partido dos Trabalhadores está a preparar-se para voltar e governar o Brasil”

Na sua primeira entrevista após a libertação, Lula da Silva acusou Bolsonaro de “destruir” o Brasil e garantiu que Partido dos Trabalhadores vai voltar ao poder. Porém, não deixou claro se essa será uma indicação para a sua possível recandidatura.
22 Novembro 2019, 11h07

Lula da Silva prometeu liderar a oposição do líder de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, alertando que o país está a regredir face aos anos de árduo progresso.

Numa entrevista ao jornal britânico “The Guardian”, divulgada esta sexta-feira, o antigo presidente brasileiro afirmou que “Bolsonaro já deixou muito claro o que quer do Brasil: quer destruir toda as conquistas democráticas e sociais das últimas décadas”.

Esta é a primeira entrevista dada à imprensa estrangeira desde de que foi libertado da prisão há duas semanas. Em conversa com o jornal britânico, o antigo presidente, com dois mandatos no currículo, deixou claro que agora tem uma missão: “lutar pela democracia”.

“O Partido dos Trabalhadores (PT) está a preparar-se para voltar e governar este país”, anunciou. Porém, não deixou claro se será candidato à presidência nas próximas eleições gerais do país.

“Vamos torcer para que Bolsonaro não destrua o Brasil. Vamos torcer para que ele faça algo de bom pelo país … mas duvido disso ”, criticou, afirmando que a sua eleição foi uma surpresa não só para o país como para ele próprio. “Ninguém previu a eleição de Bolsonaro, nem mesmo ele”, disse Lula.

“As pessoas votaram no Bolsonaro, principalmente, porque Lula não era candidato”, explicou. “A melhor maneira de recuperar o voto dessas pessoas é conversar bastante com elas.” O Partido dos Trabalhadores, apesar de estar manchado de escândalos e polémicas políticas, continua a ser o partido mais popular do Brasil por uma margem considerável. Mas também é o mais rejeitado logo a seguir ao ex-partido do PSL de Bolsonaro, com cerca de 40% do eleitorado a dizer que nunca votariam no partido de Lula.

“É claro”, Lula ri. “Mas as pessoas falam mais sobre Pelé do que os outros jogadores.”

Brasil aos olhos do mundo

Para além de criticar o estado do Brasil também criticou as relações externas de Bolsonaro com outros governos, especialmente a aquela que tem com os Estados Unidos: “A submissão dele ao Trump e aos EUA… é realmente embaraçosa”, confessou.

“A imagem do Brasil é negativa agora. Temos um presidente que não governa, que está discutindo notícias falsas vinte e quatro horas por dia ”, disse ele. “O Brasil precisa ter um papel no cenário internacional.”

Sobre a atual crise política que assola a América Latina, Lula afirmou estar “empolgado” por ver líderes de esquerda na Argentina e no México, mas ficou profundamente triste com a atual crise na Bolívia, onde Evo Morales renunciou o cargo sob pressão devido a alegações de fraude eleitoral. “O meu amigo Evo cometeu um erro ao tentar um quarto mandato como presidente”, disse ele. “Mas o que fizeram com ele foi um crime. Foi um golpe – isso é terrível para a América Latina. ”

O antigo Presidente do Brasil Lula da Silva deixou a prisão de Curitiba, onde estava em reclusão há 580 dias, dia 8 de novembro. Eram 20h42 (hora de Lisboa).

Nas suas primeiras palavras em liberdade, Lula agradeceu a todos os que o têm apoiado ao longo de um dos momentos mais difíceis da sua vida.

“Queridos companheiros e companheiras, vocês não têm noção do significado de eu estar aqui junto de vocês. Eu que a vida inteira tive conversando com o povo brasileiro, não pensei que no dia de hoje poderia estar aqui conversando com homens e mulheres que durante 580 dias gritaram aqui bom dia Lula, boa tarde Lula, boa noite Lula. Não importa que chovesse ou estivessem 40 graus ou zero graus”, declarou.

“Vocês eram o alimento da democracia que eu precisava para resistir à safadeza e canalhice que o Estado brasileiro fez comigo e com a sociedade brasileira”, sublinhou.

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