Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 5 de agosto, com a edição impressa do Semanário NOVO.
Mais uma subida de juros no Reino Unido, a 14.ª consecutiva, ficou garantida quinta-feira, com o Banco de Inglaterra (BoE) a decretar mais 25 pontos base (p.b.) e a colocar a taxa de referência em 5,25%. O voto não foi unânime e o mercado ainda chegou a dar 40% de probabilidade a uma subida de 50 pontos, tal como havia resultado da reunião anterior, mas os dados animadores da inflação em junho permitiram uma subida menos expressiva.
Os olhos estão agora colocados na reunião de setembro. A inflação até deu sinais de alívio em junho, recuando em termos homólogos para 7,9% depois de ter ficado em 8,7% nos dois meses anteriores. Ainda há muito caminho a percorrer, como mostra o indicador core, em 6,9%, um valor muito acima do objetivo de 2% para o indicador nominal no médio-prazo e um sinal claro de que a inflação manter-se-á elevada durante algum tempo, mas começa a haver sinais de arrefecimento nas pressões inflacionistas.
No entanto, o BoE recusa-se a cantar vitória, falando, ao invés, em “dados recentes mistos”, procurando arrefecer ânimos e manter um discurso mais hawkish (ainda que os mercados não tenham reagido em linha). Andrew Bailey, presidente do organismo, reconheceu que o lado dos serviços continua a pressionar o indicador nominal, apontando a 5% na leitura de outubro à medida que se começam a sentir os efeitos das subidas de juros na economia real.
Em particular, a dinâmica salarial continua a incomodar, algo reconhecido na declaração queinformou da decisão de política monetária de quinta-feira, com a leitura mais recente do mercado de trabalho a revelar ganhos de 6,9% no trimestre terminado em maio. Excluindo a turbulência da Covid-19, é o ritmo mais elevado desde 2001.
Efeitos do Brexit?
Numa nota de pesquisa sobre a economia britânica, a Goldman Sachs argumenta que as alterações nos fluxos migratórios pós–Brexit alteraram de forma substancial e determinante a força de trabalho britânica, contribuindo para a atual rigidez e sobreaquecimento. Por sua vez, esta rigidez agrava o risco de efeitos de segunda ordem na inflação, ajudando a explicar a persistência da pressão nos preços no Reino Unido.
Na mesma nota, o banco de investimento norte-americano projeta que o pico das taxas chegue a 5,75%, ou seja, 50 p.b. acima do atual nível. Olhando para o mercado, a mediana das projeções calculada pelo banco ING aponta para 5,65% no final deste ano, ou seja, as apostas estão bastante divididas entre 5,50% e 5,75%. Os analistas do banco neerlandês estão mais inclinados para a hipótese mais baixa, mas destacam a evolução desde há pouco mais de uma semana, quando o mercado temia taxas perto de 6,5% no final deste ano.
Outra surpresa agradável tem sido a capacidade da economia britânica de resistir à nuvem da recessão que pairava no seu horizonte, algo que o próprio BoE chegou a admitir como quase inevitável no final do ano passado, projetando 2023. Haverá novos dados quanto ao crescimento do segundo trimestre napróxima sexta-feira, algo a que certamente os mercados e o banco central estarão atentos.
No entanto, a subida rápida da dívida britânica coloca pressão sobre as finanças públicas do país, alerta a Davekal Research. O think-tank destaca que a economia do Reino Unido experienciou o maior disparo no serviço da dívida pós-pandemia, saltando de 2% no segundo trimestre de 2020 para 4% do PIB atualmente.
Com um quarto dos títulos indexados à inflação, o Tesouro e o BoE viram uma pressão acrescida nas suas responsabilidades financeiras, acrescendo à urgência de controlar o indicador de preços.
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