Este ano comemoram-se 50 anos do Maio de 68, que foi muito mais do que um grito por “Liberté, Egalité, Sexualité” como, posteriormente, os porta-vozes, a vários níveis, não somente políticos, do conservadorismo e centrismo do, até agora, triunfante capitalismo, tentaram e ainda tentam classificá-lo, com o óbvio objectivo de o desvalorizar e, sobretudo, denegrir, mesmo sendo certo que o Maio de 68, “it-self”, acaba por estar interligado à outros “movimentos”, em especial americanas, mas também globais, dos hippies do Flower Power e do Sex, Drugs and Rock and Roll e dos “equalitarians” do Civil Rights Movement – este o verdadeiro pai da criança.
Não é menos verdade que praticamente todos, quer os intelectuais na França, quer os milhões de anónimos, por esse mundo fora, que deram a cara por uma mudança social de mentalidades e de comportamentos, que contribuíram, indubitavelmente, para um reforço da liberdade e dos direitos das pessoas, se “aburguesaram”, ou se preferirem, se “normalizaram”, o que é, perfeitamente, normal, dada a força e vontade própria do sistema, que sempre soube, fruto destas suas características, dar a folga e fazer as integrações necessárias para manter a coesão social e poder continuar a funcionar.
No soberbo filme sobre Nixon, superiormente, interpretado por Anthony Hopkins, há um fabuloso diálogo no Lincoln Memorial com uma estudante, que o questiona por que razão não termina com a Guerra da Vietname e que atesta bem isto que vos escrevo de que o sistema, na sua complexidade estrutural e transversal, tem, de facto, vida própria, e acaba sempre por fazer o que quer, porque se alimenta dos nossos medos e desejos de segurança, mesmo que ilusória e esclavagista.
Passados que são 50 anos, podemos sem qualquer dúvida dizer que estamos, globalmente, melhores. Nunca houve tanta evolução e progresso em todas as áreas da existência e da ciência, nunca se produziu tanta riqueza nem nunca houve tanta gente rica como agora e também é verdade que vivemos todos mais tempo e vamos quase todos tendo acesso ao que nunca tivemos, mesmo nos confins do mundo – é que nunca houve mesmo tanta solidariedade internacional como agora, também era o que faltava não a haver com tanto excedente existente no nosso mundo ocidental.
Mas ainda que as mentalidades e comportamentos vão mudando, como mudam, ainda que algumas mudanças sejam sempre, por natureza, lentas, em particular aquelas mais importantes, as que mexem com o que mantem o sistema a funcionar a todo o vapor, estamos, 50 anos depois do Maio de 68, com um grande desafio entre mãos, que vai muito mais além do que direitos, liberdades e garantias. A sustentabilidade do planeta. Como o manter vivo e habitável, sabendo bem da sua fragilidade e que toda a vida na Terra está interligada. Hoje somos mais de 7,5 mil milhões (em 1945, eramos 2,5) e em 2100 seremos mais de 11 mil milhões – estimativas da ONU.
Antes de mais, muito antes das decisões políticas, regionais, nacionais e internacionais, este desafio esbarra colectivamente no “hic et nunc” (o aqui e agora) com que a maioria da humanidade vive, como se não houvesse passado nem futuro, apenas presente, como se não tivéssemos, todos nós, de zelar pela nossa casa – a Terra – e que o primeiro passo para isso é ter consciência de que muito mais do que o consumismo desenfreado há um património que a todos e a tudo pertence, não apenas ao Homo Sapiens Sapiens, que tem que ser protegido, devemos isso à vida, em geral, é essa não só a nossa herança, como também o nosso testamento porque afinal, falso ou não, é bem verdade o que, supostamente, um “tuga”, escreveu a António Guterres a exortar mais dele e da ONU na defesa da sustentabilidade e ambiente da Terra É que este – o terceiro rochedo a contar do sol – é o único planeta conhecido que produz vinho…e porque, digo eu, somos nós todos o sistema, convém que disso não o esqueçamos!
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