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Maior especialização, mais colaboração e poder aos clientes: o sector financeiro do mundo digital

O sector financeiro, até agora maioritariamente tradicional, sofreu alterações nos últimos anos que a pandemia veio fixar, acelerar ou até mesmo criar, como se viu no caso dos grupos de investidores a retalho que influenciaram fortemente o mercado bolsista norte-americano.
3 Março 2021, 16h45

Alterações tão profundas como a transição digital que se vive atualmente chegam à estrutura dos sectores intervenientes no processo, como ilustram e antecipam os intervenientes do primeiro painel da mesa-redonda digital organizada esta quarta-feira pelo Jornal Económico com o tema “Do salto tecnológico à retoma da economia, os desafios do sector financeiro no pós-pandemia”

“A tecnologia dá cada vez mais poder ao utilizador. O que isto traz é que a sobrevivência ou rentabilidade vai-se fazer por quem dominar a relação com o cliente final e a tecnologia traz um eixo que é da normalização extra sectorial”, antevê Pedro Mata, Deputy CEO da Credibom, que vai mais longe e afiança que “o sector financeiro tem ainda de investir muito para ganhar a relação com o cliente”.

Igual foco na relação com o cliente foi colocado por Dario Coffetti, diretor geral do Oney Bank Portugal, que perspetiva três grandes desafios para a área financeira no novo mundo virtual: a digitalização dos canais, a disponibilização dos mesmos em simultâneo para que a escolha recaia sobre o cliente e a simplificação dos produtos de crédito. “Tudo isto numa lógica de globalização”, especifica.

Do lado operacional, a ideia passa sobretudo por uma maior especificação de serviços por parte de cada novo agente, com os tradicionais a manterem o seu lugar no mercado, mas mais direcionados para operações não quotidianas, como o crédito.

“Tem aparecido muita tecnologia para melhorar processos, melhorar experiências, mas não vemos propriamente novos produtos a aparecer”, constata Ricardo Costa, diretor executivo da LOQR, que vê nos novos atores digitais um foco sobretudo na “criação de tecnologia para melhorar” mecanismos ou serviços já existentes na banca tradicional.

Igual visão tem Carlos Carvalho, managing partner da Fingeste, que prevê “o aparecimento de vários players” que levará a “uma fragmentação de mercado”, mas onde “só vão sobreviver aqueles que conseguirem monetizar a sua competência tecnológica”. “O know how tecnológico, a adoção de novos processos como a inteligência tecnológica” e a existência de soluções robustas de armazenamento e gestão de dados serão assim chave para a sobrevivência das entidades financeiras, argumenta.

Para Luís Augusto, a principal tendência será a de colaboração entre empresas, fazendo eco da especialização acima mencionada de grande parte das novas empresas disruptoras e inovadoras do sector, sobretudo fintechs, que poderão fornecer novas soluções à banca tradicional. Mas também as tecnológicas poderão desempenhar este papel, adianta o diretor executivo do BNP Paribas Portugal.

“A vantagem que têm [fintechs e tecnológicas] é de não terem o legado de sistemas informáticos por vezes obsoletos ou pesados; podem assim a partir do dia 1 começar com um sistema novo e mais eficiente, podem trazer algo novo”, defende.

No mercado bolsista, as tendências recentes ligadas aos investidores a retalho marcam claramente uma possibilidade de evolução do sector que poucos anteviam há um ano. O analista sénior da ActivTrades Ricardo Evangelista antecipa que este segmento deverá mesmo manter o seu interesse pelo trading, pelo que são expectáveis alterações regulatórias depois de ações coletivas que “desafiam a racionalidade económica”.

“Muitos [investidores] não fazem ideia do que estão a negociar. Leem no Reddit que é boa ideia comprar agora Gamestop, compram e, claro, já vão tarde e perdem o seu dinheiro”, conta o analista, exemplificando o desafio que se impõe de regulamentação no sector.

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