Entre 15 e 20 famílias portuguesas regressaram aos Açores pelos próprios meios para evitar uma deportação forçada por parte do Governo norte-americano, indicou hoje à Lusa a presidente do Centro de Assistência aos Imigrantes de New Bedford.
Em declarações à Lusa, Helena da Silva Hughes, presidente do Centro de Assistência aos Imigrantes de New Bedford, cidade do estado norte-americano de Massachusetts, indicou que o número total de famílias que deixou o país é incerto, mas garantiu que irá aumentar nos próximos meses, à medida que o ano letivo se aproximar do fim.
“Temos muitas pessoas que já compraram os bilhetes de avião e saíram, mas também temos muitas pessoas que se estão a preparar para ir embora e estão só à espera que os filhos acabem este ano letivo, em junho”, explicou.
“Além disso, temos muitas famílias que estão aqui há 15, 20 anos, e estão a tentar vender os seus negócios, as suas empresas e as suas casas para poderem regressar a Portugal sem assuntos pendentes”, acrescentou, referindo-se a portugueses com negócios nas áreas da restauração, construção ou de limpezas.
Essas famílias, predominantemente dos Açores, estavam em situação ilegal nos Estados Unidos e optaram pelo regresso a Portugal com receio de serem arrastadas para um processo de deportação forçada pela parte do Governo de Donald Trump, o que implicaria uma possível detenção em centros de imigração e uma potencial separação familiar.
De acordo com Helena da Silva Hughes, “todos os dias os agentes de imigração estão na área de New Bedford em busca de pessoas para deportar”, a abordar imigrantes nas ruas, à saída para os seus trabalhos.
A presidente do Centro de Assistência aos Imigrantes, uma organização sem fins lucrativos, indicou que os imigrantes da América Central têm sido os principais alvos devido ao seu “perfil racial”, que os torna “facilmente identificáveis”.
Mesmo assim, os portugueses estão “muito assustados”, garantiu, contando o caso de um português que relatou estar com medo de sair de casa com receio de ser levado pelos agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês).
“As pessoas estão com medo de sair de casa, porque a casa é onde estão protegidos. Tivemos casos de imigrantes que tiveram os vidros do carro partidos para serem levados por agentes do ICE”, disse, frisando que esses casos não ocorreram com portugueses.
“Antes de Trump ser eleito, uma pessoa só poderia ser detida por agentes de imigração se eles se fizessem acompanhar por um mandado assinado por um juiz. Entretanto, o que estamos agora a ver é que esse processo não está a ser respeitado. Os agentes estão simplesmente a fazer tudo o que querem para deter as pessoas e deportá-las”, constatou.
Nesse sentido, Helena está há meses a preparar um plano de emergência para famílias, para que, nos casos em que os pais estejam em situação ilegal e a criança tenha nascido em solo norte-americano e tenha cidadania norte-americana, o menor fique temporariamente ao cuidado de alguém aprovado pelos pais, ao invés de ficar ao cuidado do Estado.
“Acho que é um dos trabalhos mais importantes que estamos a fazer. É um plano que é muito importante para estas famílias estarem preparadas caso sejam apanhadas pelos agentes da imigração”, afirmou.
O Presidente dos Estados Unidos, que prometeu a maior deportação em massa da história, assinou este mês uma ordem executiva para encorajar alguns imigrantes em situação irregular a “autodeportarem-se”, oferecendo-lhes voos gratuitos para o estrangeiro.
Antes disso, a sua administração já tinha anunciado que iria atribuir 1.000 dólares (cerca de 900 euros, ao câmbio atual) aos imigrantes que saíssem voluntariamente, além de cobrir os seus custos de transporte.
Porém, Helena da Silva Hughes garantiu à Lusa que essa medida não terá adesão junto dos imigrantes portugueses, uma vez que esse processo de “autodeportação” implicaria um registo e as pessoas não querem que o Governo norte-americano tenha acesso aos seus dados.
A presidente do Centro de Assistência aos Imigrantes frisou que atualmente “não há maneiras” para estes imigrantes conseguirem regularizar a sua situação migratória e ficarem de forma permanente no país, desaconselhando qualquer pessoa a viajar para os Estados Unidos com o visto de turista e a permanecer no país além do permitido.
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