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Manuel Gil Antunes: “É muito importante inovar e investir em novas soluções de eficiência energética”

Manuel Gil Antunes, CEO da HyChem, explica ao JE o plano de investimentos de 80 milhões de euros que a empresa tem para também concretizar o papel no processo de transição energética, através da aposta no hidrogénio.
19 Novembro 2024, 07h30

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A HyChem quer ter um papel no processo de transição energética, através da aposta no hidrogénio. Está a revitalizar a capacidade que herdou da antiga Solvay e planeia investir 80 milhões de euros nos próximos três anos e meio em projetos de descarbonização das suas operações, no desenvolvimento de novas tecnologias de hidrogénio e na retoma da produção de sal, com ambição internacional. “Podemos voltar a tornar viáveis indústrias tradicionais que, devido a custos de contexto, passam dificuldades”, afirma Manuel Gil Antunes, CEO da empresa, em entrevista ao JE.

 

Vão construir uma fábrica de eletrolisadores para produção de hidrogénio em Matacães, Torres Vedras. Que projeto é este, qual é o seu racional e em que ponto de desenvolvimento é que está?

O projeto de produção industrial de eletrolisadores em Torres Vedras é um projeto que resulta da nossa atividade de investigação e desenvolvimento em parceria com outra tecnológica portuguesa, que se chama Tecnoveritas. No âmbito dessa parceria desenvolvemos um eletrolisador de tecnologia tradicional, tecnologia alcalina não uma tecnologia de membranas; é uma tecnologia que está a experimentada e onde nós introduzimos uma inovação significativa no processo produtivo e que, basicamente, utiliza impressoras 3D para a impressão das peças essenciais do eletrolisador, o que nos permitirá ser mais competitivos do que a generalidade da oferta na Europa.

Trata-se de um projeto de investimento que conta com o apoio do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]; é um investimento global de cerca de 9,5 milhões de euros, com o apoio do PRR de 3,5 milhões. Neste momento, estamos a tratar da fase final de licenciamento da construção e já com as encomendas das máquinas feitas de forma a que já em 2026 a unidade fique operacional.

O objetivo é o mercado nacional ou o internacional?

Objetivo é, em primeira linha, o mercado nacional, de forma a podermos servir numa base de proximidade e numa relação de custo efetiva o conjunto de projetos que se anunciam para o mercado português, mas obviamente que temos uma vocação exportadora e, portanto, visamos, claro, o mercado internacional.

Ainda é um investimento razoável. Como é que vão financiar? Como é que têm financiado o vosso crescimento?

Uma parte relevante é um apoio do PRR. O restante tem uma componente significativa de capitais próprios gerados pelo nosso negócio core de produção de clorato e de hidrogénio e, depois, contamos também com o apoio financeiro da banca nacional.

Têm a ambição de ter um papel no processo de transição energética em Portugal. Onde é que se querem situar?

A HyChem é uma empresa com 90 anos de história. Até 2021, chamava-se Solvay Portugal, está instalada na Póvoa de Santa Iria, onde tem um parque industrial com mais de 40 hectares, que teve um pico de utilização industrial por volta do ano 2000, quando empregava mais de mil pessoas. Depois, devido aos custos de contexto, em que os custos energéticos e o ambiente regulatório tiveram um papel determinante, perdeu competitividade a nível internacional, o que levou os seus acionistas a encerrarem sucessivamente unidades industriais naquele parque. Em 2019, fizemos uma abordagem à Solvay para inverter este ciclo a propósito de um projeto de descarbonização, o que nos levou a este processo de transformar um desafio numa oportunidade.

A nossa atividade industrial é altamente consumidora de energia. Em anos bons, isto é, anos com custos controlados de energia, pode representar 70% do nosso custo, portanto, é muito importante inovar e investir em novas soluções de eficiência energética e novas soluções de produção de energia renovável para autoconsumo, dando um exemplo de como fazendo esses investimentos podemos voltar a tornar viáveis indústrias tradicionais que, devido a estes custos de contexto, passam dificuldades. E eu creio que o nosso exemplo pode ser seguido nessa linha.

Que tipo de investimentos é que fizeram, nomeadamente nas energias renováveis, para conseguir esse efeito?

O primeiro grande investimento é em produção fotovoltaica para autoconsumo. Já temos em operação uma central com 2 megawatts e os nossos investimentos prosseguem até um total de 14 megawatts de potência no final do próximo ano. Mas é fotovoltaico e, portanto, o número de horas solares é finito.

Esse investimento representará apenas uma autonomia de cerca de 25% no nosso consumo. Isso implica fazer um investimento adicional em produção eólica.

Por outro lado, como há 90 anos que fazemos produção de hidrogénio por eletrólise, o papel do hidrogénio no nosso processo de transição energética é muito relevante. Nós já hoje e desde há vários anos produzimos o vapor para as nossas atividades industriais a partir de hidrogénio; utilizamos caldeiras que produzem vapor indiferentemente utilizando gás natural ou hidrogénio e como produzimos hidrogénio, utilizamos hidrogénio para a produção de vapor, e estamos a fazer investimentos em inovação tecnológica no sentido de conseguirmos armazenar o hidrogénio produzido nas horas em que a eletricidade está mais disponível e a custos mais acessíveis, armazenar esse hidrogénio para utilizar depois nas horas que o custo da energia é mais elevado.

Por outro lado, também em tudo o que diz respeito à utilização de outros combustíveis de base fóssil, abandonamos essa utilização, introduzindo também soluções de hidrogénio até para a nossa logística. Um investimento que gostaria também de partilhar convosco é num posto de abastecimento de hidrogénio para veículos pesados, que estará operacional no final de janeiro do próximo ano, portanto, já daqui a pouco mais três meses, e que terá capacidade para abastecer até 10 veículos pesados, autocarros ou camiões, e com o qual pretendemos dar o primeiro passo para transformar a nossa logística numa logística à base de hidrogénio.

E já têm os veículos a ser adaptados?

Isto é um pouco a história do ovo e da galinha. Existem vários fabricantes com veículos a hidrogénio, veículos pesados a hidrogénio, para colocar no mercado, mas não recebem encomendas porque não está assegurada a logística. Nós pretendemos ser um catalisador nesse processo, disponibilizando o hidrogénio que nós produzimos com qualidade de pilha de combustível e disponibilizando o posto de abastecimento, para que esses veículos que já existem e que precisam de testes de mercado possam vir ser feitos esses testes nas nossas instalações e, a partir daí, podermos ser um contributo significativo para este processo de transição.

Encaram a possibilidade de avançarem para uma rede de abastecimento?

Nós não nos posicionamos com a pretensão de ter uma rede nossa, posicionamo-nos como fornecedores de hidrogénio para essa rede e possibilitando, com as demonstrações, a viabilidade deste caminho. Mas, depois, entendemos que com parcerias – nós acreditamos num modelo de desenvolvimento empresarial em cooperação –, existem outras empresas com vocação para a distribuição de combustíveis e, portanto, também para a distribuição do hidrogénio.

Em termos tecnológicos, este este posto vai ser feito in house ou contam com parcerias?

Este posto resulta de uma parceria que começámos há três anos, com uma empresa francesa que é líder na instalação de postos de abastecimento na Europa, tem um número já relevante em França. Desenvolvemos essa parceria já depois de, ainda em 2019, termos dado os primeiros passos para o desenvolvimento desta tecnologia com empresas portuguesas, na altura com o apoio do Portugal 2020, mas com o efeito da pandemia esse projeto não conseguiu apresentar resultados e acabámos por avançar com esta parceria que nos permitiu avançar mais depressa, com uma tecnologia que está pronta para utilização.

Estamos a falar de investimentos significativos. Qual é o vosso plano de investimentos?

O nosso plano de investimentos para os próximos três anos e meio ascende a 80 milhões de euros. Uma parte significativa, cerca de um terço, são investimentos vocacionados para a descarbonização e a eficiência energética dos nossos projetos industriais. Uma segunda componente, que representará cerca de 25% do investimento, [destina-se a] novas tecnologias de hidrogénio.

Já falei do projeto eletrolisadores, já falei do projeto do armazenamento do hidrogénio, falta falar de um projeto em colaboração com a Mitsubishi para a reconversão de motores marítimos a combustão para passarem a poder utilizar hidrogénio no regime híbrido com o gasóleo.

Finalmente, um investimento muito significativo, de cerca de 25 milhões de euros na retoma da produção de sal nas nossas minas de sal-gema, que têm depois uma ambição subsequente, depois deste ciclo de investimento de três anos e meio, porque as cavidades geradas pelo processo de extração de sal têm depois uma nova vida, enquanto silos para armazenagem para gases renováveis e outros.

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