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Maria Luis avisa que “bancos precisam de fazer mais do que preservar a estabilidade”

“Chegou o momento de aliar a solidez dos bancos europeus a um renovado sentido de propósito: transformar a resiliência em competitividade, a prudência em progresso e a regulamentação num incentivo ao crescimento”, defende Maria Luís na revista The International Banker,
12 Novembro 2025, 18h27

Maria Luís Albuquerque, Comissária Europeia, responsável pelos Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos, escreveu para a revista The International Banker,  e deixou um recado claro aos bancos europeus “precisam de se adaptar ou ficarão para trás”.

“Na última década, os bancos europeus tornaram-se mais fortes, seguros e resilientes. Mas a estabilidade por si só não é uma estratégia”, refere a Comissária que vai mais longe e diz que “se queremos competir a nível global, o nosso setor bancário precisa de fazer mais do que preservar a estabilidade — precisa de impulsionar a competitividade, aprofundar os mercados de capitais e financiar as prioridades da Europa — desde as tecnologias limpas às infraestruturas digitais e à defesa”, disse a Comissária Europeia, que tem a seu cargo a União de Poupança e Investimento.

Mas os bancos não podem fazer isto sozinhos, refere a Comissária.

Tal como escreve hoje no International Banker, “é tempo de transformar a resiliência em competitividade, a prudência em progresso e a regulação num incentivo ao crescimento”.

“Um setor bancário mais forte é indispensável, mas não é suficiente por si só. Para alcançar um crescimento sustentado, a Europa necessita de complementar os seus bancos com mercados de capitais mais profundos e integrados”, defende Maria Luís que acrescenta que “as empresas precisam de um equilíbrio mais saudável entre o endividamento e o capital próprio”.

“Isto significa os bancos expandirem os seus papéis na estruturação do financiamento de capital próprio, apoiar a titularização e o capital de risco e desenvolver instrumentos que mobilizem os fundos privados juntamente com as garantias públicas. Significa também repensar a estrutura da capacidade de banca de investimento da Europa”, defende Maria Luís.

“Precisamos de bancos capazes de subscrever projetos de grande escala, financiar a inovação e competir a nível global. Hoje, o fosso no sector da banca de investimento entre a Europa e outros blocos económicos é gritante — e limita a nossa capacidade de financiar as tecnologias e as indústrias do futuro”, acrescenta.

A Comissária diz que “uma economia europeia construída apenas sobre empréstimos seguros não pode prosperar num mundo impulsionado pela inovação e pela tomada de riscos. Precisamos de um ecossistema financeiro que recompense o empreendedorismo, avalie o risco de forma inteligente e transforme a poupança em capital produtivo”.

Para alcançar um crescimento sustentado, a Europa necessita de complementar os seus bancos com mercados de capitais mais profundos e integrados, defende. “As empresas precisam de um equilíbrio mais saudável entre o endividamento e o capital próprio. Os bancos devem desempenhar um papel activo nesta transição — não apenas como credores, mas também como facilitadores de investimento”.

“Os bancos devem desempenhar um papel ativo nesta transição — não apenas como credores, mas também como facilitadores de investimento”, defende Maria Luís Albuquerque.

Maria Luís defende que a Europa necessita de mercados de capitais mais profundos e integrados, de regras comuns e de uma supervisão verdadeiramente unificada.

“Os governos e os supervisores devem criar as condições para que a ambição floresça — removendo as barreiras nacionais, incentivando a atividade transfronteiriça e recompensando a tomada de riscos inteligentes. Temos a responsabilidade para com as gerações futuras de construir uma Europa que seja não só segura, mas também forte; não só estável, mas também ambiciosa”, disse.

“Os nossos bancos devem liderar esta transformação, porque um sistema bancário dinâmico, integrado e competitivo não é apenas a base da nossa economia, mas também um pilar da prosperidade e da autonomia estratégica da Europa”, sublinhou.

Maria Luís reconhece que ao longo da última década, a Europa construiu um dos sistemas bancários mais resilientes do mundo. Os nossos bancos estão mais bem capitalizados, mais bem supervisionados e mais bem preparados para resistir a choques do que em qualquer outro momento da história recente. Demonstraram a sua solidez durante a pandemia, durante a crise energética e através de uma série de exigentes testes de stress.

Mas a resiliência, embora essencial, não chega. “A estabilidade sem ambição corre o risco de se transformar em estagnação. Chegou o momento de aliar a solidez dos bancos europeus a um renovado sentido de propósito — transformar a resiliência em competitividade, a prudência em progresso e a regulação num incentivo ao crescimento”, frisou.

“Um sistema criado para a segurança precisa agora de servir a competitividade”

Os bancos europeus continuam a ser o principal motor do crédito às famílias e às empresas, fornecendo cerca de dois terços do financiamento empresarial na União Europeia (UE). São o tecido conjuntivo da nossa economia — garantindo a inclusão, apoiando as pequenas e médias empresas (PME) e viabilizando o investimento.

No entanto, “não estão a explorar todo o seu potencial como impulsionadores da inovação e da produtividade”, diz Maria Luís.

Em comparação com outras grandes economias, a Europa continua a depender excessivamente do financiamento baseado em dívida, aponta.

“Temos bancos fortes, mas poucos bancos de investimento com a escala e a capacidade necessárias para acompanhar as empresas desde a sua criação até à liderança global. Os nossos mercados de capitais permanecem fragmentados. Muitas empresas promissoras crescem noutros locais porque não conseguem captar recursos próprios”, acrescenta.

O resultado é um paradoxo, refere Maria Luís, a Europa é rica em poupança — cerca de 11 biliões de euros em depósitos bancários — mas pobre em investimento”.

“Os nossos bancos são a ponte natural entre esta riqueza em poupança e a economia produtiva, mas esta ponte ainda não está completa”, acrescenta.

Os bancos precisam de se adaptar — ou ficarão para trás

O panorama financeiro está a mudar rapidamente, alerta a Comissária que diz que as fintechs (empresas de tecnologia financeira), os neobancos e as instituições financeiras não bancárias estão a remodelar o mercado, utilizando dados, tecnologia e escala para chegar diretamente aos clientes. “As empresas globais de fora da UE estão a conquistar segmentos do nosso sistema financeiro que eram anteriormente servidos por instituições nacionais”, refere.

“Um sistema financeiro moderno não é aquele que se protege da mudança ou da concorrência, mas sim aquele que a canaliza de forma produtiva. Os bancos que prosperarem serão aqueles que utilizarem o seu capital, conhecimento e a confiança dos clientes para liderar as transições verde e digital da Europa, mantendo os mais elevados padrões prudenciais”.

O discurso de Maria Luís é duro pois diz mesmo: “Os bancos europeus enfrentam uma escolha, adaptar-se ou perder relevância”.

“Os bancos precisam de adotar a tecnologia, simplificar as operações e construir modelos de negócio inovadores, centrados no cliente e globais”, acrescenta.

Por fim destaca que “provámos que a Europa consegue construir um sistema bancário seguro e estável. O teste seguinte é saber se conseguimos torná-lo ambicioso – capaz de competir a nível global, de financiar as tecnologias e as indústrias que definirão o nosso futuro e de oferecer aos cidadãos e às empresas um ambiente dinâmico para poupar, investir e crescer”.

Mas, defende, “esta não é uma tarefa apenas da Comissão. É uma responsabilidade partilhada – dos governos, dos parlamentos, dos reguladores, dos supervisores e do próprio sector financeiro. Todos temos um papel a desempenhar na construção de um sistema financeiro que reflita a dimensão e o potencial da economia europeia”.

No artigo fala ainda da conclusão da União Bancária — incluindo um mecanismo europeu credível de seguro de depósitos — continua a ser uma prioridade estratégica. “Mas os Estados-Membros também precisam de olhar para além da agenda regulamentar”, disse.


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