Mas há muitos, muitos anos atrás, não era assim. Quando Mário Soares, de quem se comemora este ano o centenário do nascimento, era primeiro-ministro, sucedia precisamente o contrário. Ele próprio, considerado uma espécie de pai da democracia – com certeza que a função de mãe fica reservada para Francisco Sá Carneiro – “tinha sobre a economia uma visão meramente instrumental”, admite o Embaixador Francisco Seixas da Costa, que o conheceu bem, em declarações ao JE. “A economia era uma coisa para os técnicos, pensava Mário Soares, que entendia não ter de gastar muito tempo a pensar nela”. “Os técnicos que tratem disso, costumava dizer, no que era precisamente igual ao presidente francês, François Mitterrand”, recorda
E não pensou, como disciplina de preocupação diária de um governo. Mas pensou-a enquanto elemento de formação de um quadro macro que permitisse que tudo o resto seguisse o seu próprio caminho.
Um dos capítulos mais emblemáticos destes 50 anos de democracia foi quando Mário Soares anunciou que estava na altura de “meter o socialismo na gaveta”. Convém recordar que, à época, 1978, o termo ‘socialismo’ não se confundia com ‘social-democracia. O socialismo era então entendido como uma espécie de fase intermédia entre a ditadura do proletariado e o comunismo – um caminho que os países teriam necessariamente que percorrer até à final apropriação de todos os meios de produção por parte do Estado enquanto síntese da mole do proletariado. Foi por isso que Mário Soares meteu o socialismo na gaveta e de lá retirou aquilo a que com alguma pompa chamou o socialismo democrático, esse sim um segundo nome para a social-democracia. Estava feito o corte com os comunistas – que nunca foram conhecidos por terem um apresso por aí além por Mário Soares, que consideravam um lacaio do capitalismo. Não foi por acaso que o PCP demoraria mais de 40 anos a admitir apoiar um governo liderado pelo Partido Socialista – esses traidores.
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