Em plena campanha eleitoral nos Países Baixos, algures no passado mês de novembro, Mark Rutte, na altura ainda primeiro-ministro – que já saberia que não iria ser eleito pela simples razão de não concorrer – aparece sisudo ao lado do seu homólogo israelita Benjamin Netanyahu. Era a prova de que os analistas precisavam: Rutte estava ativamente empenhado em conseguir o lugar de secretário-geral da NATO, em substituição do norueguês Jens Stoltenberg – que, dizem os meios que se dizem normalmente bem informados, estava à época interessado em dirigir o banco central do seu país.
Rutte, um desses políticos frugais que tenta fugir ao ‘diz que disse’ tão particular das bandalheiras dos países do sul, nunca chegou a negar o seu interesse. Mas negou que não ter negado não foi uma decisão acertada: afirmou entretanto que “foi um erro” infantil ter sinalizado a sua vontade. É que as simulações e os enredos alternativos em que os países do sul são especialistas contaminou o debate político europeu – o que fez com que todos os restantes candidatos passassem a conhecer pelo menos um dos alvos a abater. “Depois de anos como político, ainda se cometem erros. E o meu erro foi que ter falado sobre uma possível mudança para secretário-geral da NATO, e não tenho certeza absoluta se isso iria acontecer. O que eu disse era obviamente o que eu queria dizer, mas não deveria tê-lo dito”, afirmou algures em Berlin numa altura em que a sua eleição ainda estava por fechar.
Para além de um eventual erro de sinceridade, é possível que Rutte, dizem os analistas, também não tenha a nacionalidade certa. Neste tempo de guerra com a Rússia, a NATO parecia estar mais inclinada para optar por um político que tenha razões adicionais para ser um guerreiro. Ou, dito de outra forma: à aliança parecia ter chegado o tempo para ser comandada por um político oriundo de um dos estados bálticos, Estónia, Letónia ou Lituânia, que estão logo atrás da linha da frente da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Qualquer político vindo daí teria todas as razões do mundo para ser radicalmente a favor de qualquer endurecimento da resposta da NATO ao conflito.
Por outro lado, dizem outros analistas, Mark Rutte podia ter a nacionalidade certa. É que, afirmam, colocar um ‘báltico’ à frente da aliança é, para todos os efeitos, ‘espicaçar’ ainda mais o sentimento anti-europeu de Moscovo – o que podia ser erro grave a prazo, numa altura em que o ocidente em geral e os Estados Unidos em particular começam a fazer contas ao custo exorbitante da guerra. Um secretário-geral oriundo dos países bálticos poderia ser levado a insistir no apoio; ao contrário, um ‘frugal’ pode compreender melhor qualquer ‘downsising’ a que seja necessário proceder em termos de financiamento. Até porque, vale a pena recordar, os Países Baixos enquanto liderados por Mark Rutte nunca chegaram a atingir os 2% do PIB em investimentos na área da defesa.
A lista dos potenciais próximos secretários-gerais incluía a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas (entretanto escolhida para Alta Representante da EU para as Relações com o Exterior), e a ministra dos Negócios Estrangeiros da Letónia, Krisjānis Kariņs.
Rutte acabou por ter uma campanha com poucos solavancos, sempre ‘levado ao colo’ pelo norueguês que irá substituir – e nem o episódio da Hungria, mais um, teve força suficiente para retirar o neerlandês do lugar que tanto quere há mais de meio ano. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, ainda disse que não iria apoiar Mark Rutte – mas, como o resto dos europeus já perceberam, o problema não era suficientemente difícil para não se resolver com um cheque.
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