“Não faz sentido nenhum um Governo de salvação nacional, e o exemplo de Itália não é uma boa referência – nem no plano político nem no plano económico”, disse Luís Marques Mendes, analista político social-democrata. Os três governos de iniciativa presidencial, “que aconteceram nos anos 70 do século passado, por isso na pré-história, não deixaram boa memória”. Marques Mendes disse ainda que um governo de bloco central era igualmente mau: “e depois, quem fazia oposição? O Chega? O Bloco?”.
“Mas, disse, vale a pela ter em atenção as causas”, que, disse, são a desilusão que os portugueses têm em relação à política.
A intervenção na SIC este domingo esteve de qualquer modo concentrado na pandemia. “Estamos na boa direção: finalmente os resultados começam a ser visíveis” disse Marques Mendes, que não deixou de enfatizar que “há uma redução modesta” em termos dos doentes hospitalizados e principalmente daqueles que estão nos cuidados intensivos. “O confinamento está a resultar – primeiro fora, e depois nos hospitais. Mas aqui há ainda muito caminho a percorrer”. “Há já claramente uma luz ao fundo do túnel”.
Marques Mendes disse que “já não estaremos em primeiro lugar, já não seremos os piores da Europa”, quando os novos números gerais, que sairão na próxima quinta-feira, forem divulgados”.
Segundo o analista político, “como dizia Carmo Gomes, só podemos quando os números descerem mais”. O objetivo é chegar abaixo dos dois mil de novos infetados diários, 1.500 internados e 200 em cuidados intensivos. “Este é o grande indicador, é para isto que temos de trabalhar”. Tudo aponta para o fim de março como o horizonte temporal que o país vive – “mas não pode facilitar-se na Páscoa, provavelmente teremos de fazer na Páscoa o que não foi feito no Natal”. “Se se facilitar, pagaremos a fatura mais tarde”, recordou.
Marques Mendes disse ainda que “António Costa está mais exigente consigo próprio”, uma mudança de postura que o analista social-democrata considera essencial. “Há sinais de mudança, para o país é melhor ter um primeiro-ministro exigente que facilitista”.
Para Marques Mendes, a mudança dá-se porque “António Costa está politicamente fragilizado. Para além disso, do ponto de vista externo, o primeiro-ministro ficou condicionado: a imagem do país é má. E quer salvar a presidência portuguesa da União Europeia”, nomeadamente com a cimeira da União Europeia que, “se não for presencial, é um flop”.
O antigo ministro do PSD enfatizou ainda que as doses de vacina que chegam ao país estão muito aquém do que era suposto, o que explica que nessa frente os problemas continuem – mas nos dois últimos trimestres de 2021 “vamos ser compensados”. “No final, vamos ter vacinas para toda a gente”, até por que o Almirante Gouveia e Melo continua a ser, na ótica de Marques Mendes, uma referência.
Autárquicas: adiamento “é indiferente”
Para Marques Mendes, o eventual adiamento faz eleições autárquicas “é uma questão indiferente”, até porque o balancear das vantagens e desvantagens “anulam-se uma às outras”. Mas há um “problema político: Orçamento do Estado. Se as eleições forem em setembro/outubro, o OE só é depois; se a data for alterada, o OE será discutido antes das eleições” e ninguém irá cometer o erro político de o inviabilizar.
O problema maior é para o PCP: “se a votação do OE for antes das eleições, é um grande problema para o PCP. Por isso, acho que o Governo não vai mudar a data das eleições.
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