[weglot_switcher]

Mercados temem petróleo acima dos 150 dólares com retaliação iraniana

Várias instituições financeiras alertam para o risco de o barril atingir novos máximos caso haja perturbações sérias ao trânsito no estreito de Ormuz, juntando-se a isto o aumento nos prémios de seguro num cenário extremo.
FILE PHOTO: A oil pump is seen at sunset outside Scheibenhard, near Strasbourg, France, October 6, 2017. REUTERS/Christian Hartmann/File Photo
24 Junho 2025, 07h00

Depois de se aproximar dos 80 dólares (69,40 euros) por barril no início da sessão desta segunda-feira, o petróleo recuou ligeiramente, dando algum alívio aos investidores, mas tal deverá ser de pouca duração. Os analistas são unânimes: o barril de ‘ouro negro’ vai encarecer e, num cenário extremo, pode duplicar de cotação e ultrapassar os 150 dólares, fixando novos máximos históricos.

O crude, a referência para o mercado norte-americano, já avançou mais de 10% desde o início da troca de mísseis entre israelitas e iranianos, mas os receios agravaram-se com a entrada em cena dos EUA, que bombardearam as instalações nucleares do Irão este fim de semana. Por enquanto, dada a resposta contida de Teerão, a situação estabilizou, mas as previsões mais extremas apontam para um disparo de mais de 100% até acima de 150 dólares (130,02 euros).

O banco ING é uma das instituições financeiras a apontar para esta possibilidade, caso o regime iraniano opte por um bloqueio de longa duração do estreito de Ormuz, uma das possibilidades colocadas em cima da mesa e que conta já com o apoio do parlamento do país. À primeira vista, tal decisão arriscaria prejudicar mais aliados como a China do que os EUA ou a UE, pelo que os investidores estão confiantes de que não será esta a estratégia de resposta escolhida.

Ainda assim, dado que um quarto do petróleo transportado por via marítima passa neste estreito e 20% do gás natural liquefeito (GNL) também, o impacto no mercado global seria inescapável e suficiente para empurrar os preços acima de 120 dólares (104,10 euros) no imediato. No caso de um bloqueio mais demorado, o risco é de escalada acima de 150 dólares.

Em resposta, outros países produtores de petróleo deverão aumentar as quantidades refinadas, embora sem capacidade para, no curto prazo, reporem os cerca de 3 milhões de barris diários produzidos pelo Irão.

O Goldman Sachs é menos pessimista, antecipando um disparo até 110 dólares (95,40 euros) no curto prazo, caso o tráfego no estreito caísse para metade durante um mês e permanecesse 10% abaixo do atual nos próximos 11 meses. No final deste ano, o banco aponta para uma cotação do Brent de 95 dólares (82,40 euros).

Ainda assim, um caso extremo de bloqueio naval na região, incluindo ataques de proxies iranianos, como os houthis no Iémen, ao tráfego no Mar Vermelho, empurrariam o barril para a casa dos 150 dólares, avisam os analistas da Goldman, convergindo assim com o alerta dado pelo ING. Esta visão é ainda secundada pelo Rabobank, que lembra o impacto temporário nos mercados da supressão da oferta russa no início da invasão em larga escala da Ucrânia.

A agravar a questão dos preços do barril, uma escalada da violência e insegurança para os cargueiros levará a um disparo no custo dos seguros, o que também contribuirá para uma subida dos preços a nível global. Num cenário limite, as rotas marítimas do Médio Oriente podem mesmo tornar-se impossíveis de segurar.

Para a UE, o cenário não é, por enquanto, o mais preocupante. A valorização recente do euro face ao dólar e a descida da cotação do petróleo no final do ano passado deixaram a economia da moeda única com margem de manobra e, no atual nível (com o euro a valer cerca de 1,15 dólares e o barril de petróleo em torno de 70 dólares), o efeito do ‘ouro negro’ na inflação é ainda negativo.

“Para que o petróleo começasse a agravar a inflação europeia, seria necessário o preço ultrapassar os 85 dólares (73,69 euros) ou o euro voltar à paridade com o dólar”, escrevem os analistas da Gavekal.

Já antes dos bombardeamentos israelitas ao Irão começarem e Teerão retaliar, o banco JPMorgan havia alertado que o risco de o barril de petróleo chegar aos 120 ou 130 dólares era real, sobretudo caso houvesse perturbações no estreito de Ormuz. Também a Oxford considerou esse cenário possível, embora extremo, temendo novo disparo da inflação nos EUA até 6%.

Segundo a Administração de Energia dos EUA, uma subida de um dólar no preço internacional do petróleo resulta, em média, numa subida de 2,4 cêntimos por galão de gasolina nas bombas. Olhando para os atuais níveis dos futuros nos mercados energéticos, os norte-americanos arriscam enfrentar um aumento de 20 cêntimos por galão (3,79 litros).

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.