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“Mesmo em tempos de crise, não podemos usar métodos do faroeste”. Países em ‘guerra’ por máscaras e ventiladores

Encomendas canceladas, equipamentos que são desviados para outros países, preços inflacionados e embargos que dificultam a luta contra a pandemia. A Covid-19 está a gerar inúmeras tensões diplomáticas entre países que lutam entre si para ter os melhores argumentos para lidar com a pandemia.
6 Abril 2020, 12h04

Em plena pandemia contra o surto da Covid-19, os problemas diplomáticos têm vindo a ser comuns em muitos países desde o início da pandemia. Do embargo norte-americano contra Cuba, às acusações de pirataria da Alemanha aos Estados Unidos passando pelo material comprado por Espanha retido na Turquia, este parece ser o apenas o início de uma ‘guerra’ diplomática.

Embargo dos EUA contra Cuba bloqueia entrada de máscaras e ventiladores

Na quarta-feira passada, Cuba denunciou as restrições do embargo imposto pelos Estados Unidos que impediram a entrada a doação de máscaras, ventiladores e testes para detectar o vírus SARS-CoV-2 enviado pela gigante chinesa na ilha sul-americana.

“As coisas são sempre mais difíceis para Cuba. Mesmo em tempos de pandemia, nós cubanos não podemos respirar facilmente”, disse o embaixador do país em Pequim, Carlos Miguel Pereira, citado na primeira página do jornal oficial “Granma”, que conta como a empresa de transportes contratada por Alibaba desistiu de chegar aos portos da ilha.

Os EUA recusaram no último minuto o pedido de Cuba, impedido de chegar ao país devido ao em embargo económico, financeiro e comercial que Washington mantém desde 1962, reforçado desde a chegada do presidente Donald Trump à Casa Branca, em 2016.

Berlim acusa Washington de “pirataria”

A acusação do ministro do Interior alemão, Andreas Geisel, chegou depois de os Estados Unidos de terem redirecionado para si mesmo um conjunto de 200 mil máscaras, que iriam servir para proteger a polícia de Berlim.

“Consideramos que isto é um ato de pirataria moderna. Não é assim que se lida com parceiros transatlânticos. Mesmo em tempos de crise global, não podemos usar métodos do faroeste”, acusou Geisel numa nota oficial.

O ministro adianta ainda que, depois do pedido de Berlim, as máscaras foram encomendadas e pagas a um fabricante norte-americano, a 3M, mas acabaram “confiscadas” em Banguecoque, na Tailândia. Geisel diz acreditar que o desvio da encomenda “está relacionado com a proibição de exportação de máscaras decretada pelo Governo dos Estados Unidos”, isto porque Trump ordenou à 3M que priorizasse os americanos no que toca à venda de material de proteção.

Donald Trump nega qualquer ilegalidade cometida pelos Estados Unidos, justificando-se com a mobilização nacional de meios para controlar a atual pandemia.

Outros países como a França, o Brasil e o Canadá, onde existe falta de material de prevenção, acusam também a administração Trump de táticas do tempo do faroeste por estarem a açambarcar e a inflacionar a produção e o preço das máscaras e ventiladores por todo o mundo.

Turquia retém avião com ventiladores para Espanha

Depois de ter doado cinco toneladas de máscaras, fatos e óculos de proteção e gel hidroalcoólico à Espanha e a Itália, a Turquia bloqueou em Ancara um avião com centenas de ventiladores comprados e pagos por várias comunidades autónomas espanholas, como Navarra e Castilla-La Mancha, de forma a reforçar o serviço nacional de saúde.

Foi a própria ministra dos Negócios Estrangeiros de Espanha, Arancha González Laya, a dizê-lo numa conferência de imprensa este sábado: o material foi “confiscado” pelo governo turco depois de o avião fazer escala na capital da Turquia. A carga está retida na Turquia há uma semana.

De acordo com a notícia da CNN, a encomenda deverá seguir para Espanha esta segunda-feira e deverá estar pronto para ser distribuído pelos vários pontos do país na terça-feira.

China cancela encomendas de equipamentos médicos comprados pelo Brasil

Empresas chinesas têm cancelado encomendas de equipamentos e consumíveis médicos feitos pelo Governo central e pelos governos regionais do Brasil sem dar explicações.

Segundo o jornal brasileiro Folha de São Paulo, um carregamento de 600 ventiladores chineses comprados por estados da região nordeste do Brasil ficou retida no aeroporto de Miami, nos Estados Unidos, onde fazia conexão aérea e a sua compra foi cancelada pela empresa fornecedora no início da semana, sem qualquer explicação.

Bruno Dauster secretário da Casa Civil do estado brasileiro da Bahia, informa que a retenção do material foi explicada como uma ação que teve “razões técnicas” já que a carga teria outro destino que não foi especificado.

 

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