Cresce exponencialmente o hype do metaverso, um universo digital imersivo em 3D que beneficia de tecnologias como a realidade virtual, a realidade aumentada e a inteligência artificial, que visa proporcionar uma emulação altamente realista do mundo físico e conectar pessoas, empresas e outras instituições.
Antes da popularização do conceito de metaverso no final de 2021, as experiências que o antecipavam vieram sobretudo do mundo dos jogos (Second Life, Fortnite), mas os investimentos empresariais atuais dirigem-se também para o marketing, o imobiliário, as indústrias criativas (música, espetáculos, arte), os ambientes virtuais laborais e profissionais, o retalho (virtual marketplaces) ou o ensino. E, claro, para o universo crypto, especialmente com a disseminação dos NFTs e de outros ativos digitais.
O metaverso, tal como o defini, ainda não existe. Vai implicar um enorme investimento em infraestrutura tecnológica, um brutal aumento da capacidade computacional e de conectividade (fala-se da web 3.0) e, sobretudo, um nível radicalmente diferente de interoperabilidade. Na verdade, o que hoje fundamentalmente temos à disposição é um conjunto de dispositivos de realidade virtual e aumentada, e de apps e outras portas de acesso para uma realidade digital fragmentada. E, claro, grandes plataformas a anunciarem investimentos substanciais, como é o caso da Microsoft (com a Mesh) e do grupo Facebook, que, sinalizando a centralidade da nova estratégia mudou de nome para Meta.
De acordo com previsões apresentadas num recente estudo da Citi (“Metaverse and Money”, março de 2022), o mercado do metaverso terá em 2030 o potencial para valer entre 8 e 13 milhões de biliões de dólares. Outros estudos indicam valores diferentes, mas partilham da crença de que será uma realidade transformadora do modo como interagimos nos planos empresarial, profissional e pessoal.
A evolução será incremental e não abrupta, e há muitas incertezas quanto ao futuro, mas importa desde já colocar algumas questões.
Como se declina o princípio de que é ilegal no metaverso o que é ilegal no mundo físico?
Como conciliar a proteção dos dados pessoais dos utilizadores com a prova digital e a identificação dos autores de infrações cometidas num universo de avatares?
Como proteger os consumidores, as crianças e os mais vulneráveis em geral da interação com interlocutores maliciosos dotados de uma aparência hiper-realista e apetrechados com profiling, big data e IA?
Como proporcionar aos investidores confiança jurídica nas operações?
Como articular o metaverso com os esforços regulatórios dirigidos aos sistemas de inteligência artificial, aos mercados e serviços digitais, à governança e à proteção de dados, à propriedade intelectual no ciberespaço e aos criptoativos e às finanças descentralizadas?
Será o metaverso um novo tabuleiro para as big tech continuarem a reforçar o seu poder?
Como determinar os tribunais internacionalmente competentes e a lei aplicável relativamente aos litígios resultantes da imersão no metaverso?
Terá o metaverso potencial para facilitar o acesso à justiça e para a tornar mais próxima dos cidadãos?