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Moçambique na lista dos países com as mais negligenciadas crises de deslocados

“Em 2024, Moçambique enfrentou uma tempestade perfeita de conflito armado, turbulência política e desastres climáticos. Esses choques sobrepostos criaram uma emergência humanitária volátil e profundamente complexa, tornando Moçambique uma das crises de deslocados mais negligenciadas do mundo pela primeira vez”, refere-se no relatório da NRC, divulgado hoje, em que o país africano aparece em terceiro lugar.
3 Junho 2025, 16h54

Moçambique entrou pela primeira vez na lista dos dez países com as mais negligenciadas crises de deslocados, elaborada anualmente pelo Conselho Norueguês para Refugiados (NRC, na sigla em inglês), que identifica 600.000 afetados pela violência e desastres naturais.

“Em 2024, Moçambique enfrentou uma tempestade perfeita de conflito armado, turbulência política e desastres climáticos. Esses choques sobrepostos criaram uma emergência humanitária volátil e profundamente complexa, tornando Moçambique uma das crises de deslocados mais negligenciadas do mundo pela primeira vez”, refere-se no relatório da NRC, divulgado hoje, em que o país africano aparece em terceiro lugar.

No relatório sublinha-se que a violência armada na província de Cabo Delgado, no norte do país, continuou “a desarraigar comunidades, enquanto as tensões se intensificaram em todo o país”, após as eleições gerais de 09 de outubro, seguindo-se, poucas semanas depois, o ciclone tropical Chido, que provocou “estragos em infraestruturas já frágeis e afundando ainda mais a população em crises”.

“Até o final do ano, quase 600.000 pessoas foram deslocadas por uma combinação de violência e desastre. O acesso a alimentos era uma grande preocupação, e 2,8 milhões enfrentaram insegurança alimentar aguda entre abril e setembro”, aponta-se no documento.

Apesar de “necessidades crescentes”, no relatório de 2024 do NRC refere-se que “a resposta humanitária teve dificuldades” na mobilização de apoio em Moçambique e que o “financiamento foi drasticamente insuficiente”.

“O Plano de Resposta Humanitária de 2024 teve apenas 41% de financiamento – o menor nível de todos os tempos. A assistência alimentar foi particularmente afetada, cobrindo apenas 13% das necessidades em Cabo Delgado”, lê-se ainda no documento, no qual se acrescenta que os primeiros números para 2025 “indicam mais um ano de necessidades não atendidas”.

Aponta-se também que o financiamento garantido até o momento “tem sido extremamente limitado, sinalizando uma tendência preocupante e potencialmente agravando a crise”.

“A crise em Moçambique desenrolou-se em grande parte fora dos holofotes. A cobertura limitada dos ‘media’, agravada por crises globais concorrentes, desviou a atenção e os recursos. À medida que o mundo olha para outros lugares, a crise multifacetada de Moçambique está a tornar-se cada vez mais invisível e perigosa”, alerta o NRC.

O Conselho Norueguês para Refugiados publica anualmente um relatório sobre as dez crises de deslocamento mais negligenciadas do mundo, com o objetivo de “focar na situação das pessoas cujo sofrimento raramente chega às manchetes internacionais”, que “recebem pouca ou nenhuma assistência” e crises “que nunca se tornam o centro das atenções dos esforços da diplomacia internacional”.

A lista de 2024 é liderada pela tripla crise de deslocados nos Camarões, nomeadamente a decorrente do longo conflito armado, com 3,4 milhões de pessoas que necessitavam de apoio urgente e proteção, seguindo-se a Etiópia, com 2,3 milhões de pessoas deslocadas, e depois Moçambique.

O número de pessoas deslocadas em todo o mundo duplicou nos últimos dez anos, mas que, ao mesmo tempo, o financiamento humanitário “cobriu apenas metade das crescentes necessidades”, acrescenta.

“A mudança de prioridades domésticas, a incerteza económica e a fadiga política levaram a cortes severos no apoio às pessoas afetadas pela crise e pelo deslocamento. O mundo está em transição, mas não devemos aceitar esse abandono como algo inevitável”, apela-se.

A lista integra ainda a crise de deslocados no Burkina Faso, no quarto lugar, seguindo-se Mali, Uganda, Irão, República Democrática do Congo, Honduras e Somália.

Alerta-se ainda para o crescente impacto das alterações climáticas nas crises de deslocados, mas também para a “escassez de financiamento”, que tem vindo a “tornar-se a norma”, necessitando os planos de resposta de pelo menos 50% de financiamento.

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